Em todos os anos de eleições, Nazaré de Sousa, de 52 anos, conhecida como Nazaré do Dindin, fica na porta do Centro de Ensino em Período Integral Antônia Chaves das Dores-Dona Nica com caixas de isopor cheias dos quitutes gelados. Neste domingo (6/10), no Novo Gama, a rotina não foi diferente.
Nazaré chegou cedo, às 8h, para atender os eleitores que encararam o calorão de até 36ºC e votaram para prefeito e vereador. A estimativa é arrecadar R$ 600 no dia.
“Vale a pena porque é a renda da família”, disse. “Com esse calor, as pessoas acabam comprando uma água geladinha, um dindizinho”, comentou.
O tino empresarial não é exclusividade dela. Ao lado da mulher, Antônio dos Santos também aproveitou o dia para ganhar uma renda extra. “Eu vendo maçã do amor, água, refrigerante”, contou. Antônio nem é do município: morador de Brasília, saiu de casa só para vender os produtos na porta da escola.
O gesseiro Leomar Marcos, 45, também foi vender alimentos. “Moro aqui perto, aí fiquei fazendo um a mais”, completou.
A professora Valéria Pereira, 41, foi votar com toda a família no colégio. “Aí, enquanto estamos esperando, compramos água e dindin. Está muito calor”, reforçou.
O aposentado Carlos Henrique Ribeiro, também comprou duas águas dos ambulantes no local. “Ter esse comércio assim na porta é uma maravilha”, destacou.
A rua para o colégio estava fechada, e os eleitores enfrentaram um mar de santinhos para fazer a votação.
Novo Gama
Apesar de a Política Nacional de Resíduos Sólido ter estabelecido o fim de todos os lixões do país até 2 de agosto, a medida não é cumprida à risca pelos municípios brasileiros. No Novo Gama, por exemplo, o Ministério Público de Goiás (MPGO) ajuizou uma ação civil pública para que a cidade apresentasse a disposição adequada aos rejeitos.
O tema mexe com questões de meio ambiente e jurídicas que devem estar no radar da próxima gestão do município.
Ao longo do ano, a 1ª Promotoria de Justiça do Novo Gama elaborou tratativas com o poder municipal, instaurando procedimentos administrativos. Também houve reuniões com os gestores da cidade para a efetiva execução das obras de construção de aterro sanitário ou contratação de aterro privado, fechamento do lixão e implantação de coleta seletiva no local.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), a massa de resíduos coletadas diariamente por habitante no Novo Gama é muito inferior à média goiana.
No município, são coletados apenas 280 gramas por pessoa em um dia. Já no estado, esse número é quase cinco vezes superior, passando de 1 quilo por habitante diariamente. Os dados foram coletados em 2022.
A disparidade com o estado não é apenas no descarte de lixo sólido. Apenas 44,71% da população total, cerca de 46.413 pessoas, têm acesso aos serviços de esgotamento sanitário. A média em Goiás é 73%.
O levantamento aponta, ainda, que o Novo Gama gera 3.841,97 mil m³ de esgotos por ano. Desse volume só 36% é coletado e tratado. Isso significa que em 2022, foram despejados 2.430,85 mil m³ de esgotos na natureza sem tratamento.
Além do saneamento básico e do meio ambiente, o município terá de lidar com questão da segurança pública. Novo Gama está entre as 110 cidades mais perigosas do país, de acordo com o Atlas da Violência divulgado neste ano. A taxa de homicídio é 30 assassinatos por 100 mil habitantes, o que equivale a 32 homicídios em um ano no município.
Embora as dificuldades sejam muitas na cidade, o cargo conta com uma boa remuneração. Em abril, a Câmara Municipal do Novo Gama aprovou um projeto de lei do executivo com o aumento de 12,42% no salário do prefeito e do vice, de 43% de secretários municipais e de 27,4% de vereadores.
Com o reajuste, o pagamento saiu de R$ 19.710,95 do prefeito para R$ 22.160,00, ultrapassando os vencimentos dos prefeitos de várias capitais do país, como Goiânia, Recife, Salvador, Fortaleza e Porto Alegre. A remuneração só valerá para a próxima legislatura.