O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) confirmou que os generais Gustavo Henrique Dutra e Augusto Heleno vão depor. Eles haviam sido alvo de outros requerimentos com convites para prestar explicações sobre atos antidemocráticos, mas ainda não tinham comparecido. Agora, estão convocados.
Heleno chegou a mudar o calendário da CPI, pedindo uma data de oitiva diferente, mas, em cima da hora, negou o convite.
Na sessão desta quinta-feira (4/5), assessores dos militares estiveram na CLDF. “A visita foi muito importante. Eles vieram em nome do comandante [do Exército Brasileiro] Tomás [Ribeiro Paiva] e garantiram a presença dos generais. Portanto, ela está assegurada. Vamos fazer perguntas pertinentes ao esclarecimento de por que não tiraram aquele acampamento antes. Tinha praticamente um serviço de delivery do Exército Brasileiro ali, servindo terroristas”, comentou o presidente da CPI, Chico Vigilante (PT — foto em destaque).
Os assessores dos generais avaliaram a comissão e a estrutura da Câmara Legislativa para recebê-los. Dutra deve ser ouvido em 18 de maio e Heleno, em 1º de junho. Dutra chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP) no dia do atentado contra as sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, enquanto Heleno era ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro (PL).
Depoimento de empresário
Os assessores chegaram antes do depoente do dia, o empresário Adauto Lucio de Mesquita. Ele é apontado como financiador de atos antidemocráticos no Distrito Federal. A CPI investiga os atentados após o resultado das eleições de 2022 e questionou o depoente sobre a participação dele, bem como de outras pessoas, em tentativas de golpe. A sessão começou às 10h.
Um relatório da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) revelou que Adauto “não somente financiou atos antidemocráticos como também participou efetivamente das manifestações em favor de intervenção militar”. Dono da rede Melhor Atacadista, o empresário fez doações para a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nas eleições de 2022.
Em um dos protestos a favor de Bolsonaro e contra o resultado das urnas, ele chegou a alegar que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) estava “ajudando” os participantes.
“Chegando aqui, no nosso local de evento. Já estamos abrindo as asas. Polícia Militar nos auxiliando aqui. Galera chapa quente, fechou a via preparando para o trio chegar lá [ao ponto combinado]. Vai arrasar. Polícia Militar ajudando a gente. É hoje”, comemorava.
Negócios
Natural de Unaí (MG), o empresário tem 55 anos, mora em Águas Claras e tem mercados espalhados pelo Distrito Federal, além de propriedades rurais em Goiás. Denúncia obtida pela Polícia Civil aponta Adauto Lúcio como criador de um grupo no WhatsApp que arrecadava dinheiro para aluguel de lonas aos acampados em frente ao quartel-general.
Além disso, a polícia verificou que ele era o responsável por vários outdoors colocados em diferentes pontos do DF, durante a campanha eleitoral de 2022, em apoio a Bolsonaro.
“Cita o denunciante que, quando o ministro do Tribunal Superior Eleitoral Alexandre de Moraes proibiu outdoors em favor de candidatos a eleição, Adauto e seus sócios teriam orientado a empresa de publicidade a mudar as frases [divulgadas nas propagandas], citando a Copa do Mundo para disfarçar o intuito político de tal publicidade”, destaca o relatório da PCDF.
A assessoria de Adauto divulgou nota, dizendo que provará que “ele não cometeu qualquer ato contra a democracia brasileira”.
Leia na íntegra:
“Sobre reportagens divulgadas nos veículos de comunicação do Distrito Federal acusando Adauto Lúcio Mesquita de envolvimento com os atos golpistas praticados em 8 de janeiro, a defesa do empresário acredita que os fatos serão esclarecidos e que será provado que ele não cometeu qualquer ato contra a democracia brasileira. O empresário jamais financiou qualquer movimento antidemocrático. É importante ressaltar que Adauto repudia veementemente os atos praticados em 8 de janeiro, que culminaram na destruição dos símbolos da democracia brasileira. O empresário é contra o vandalismo e a intolerância política e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. Assim como grande parte da população, Adauto acredita na justiça brasileira e espera que todos os envolvidos nos atos de vandalismo de 8 de janeiro sejam exemplarmente punidos.“
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