Atingido por quatro tiros, Regis do Carmo contou à Polícia Civil detalhes sobre o feminicídio contra Diva Maria Maia da Silva
servidor público Regis do Carmo Correa Maia, 47 anos, prestou depoimento à Polícia Civil na segunda-feira (11/2) para contar detalhes do feminicídio de sua mãe, que ocorreu dentro de apartamento no Bloco E da 316 Norte, na manhã do último 28 de janeiro. Depois de 15 dias internado, após ser baleado quatro vezes pelo próprio pai, ele relatou momentos que antecederam o ataque de fúria do vendedor de carros Ranulfo do Carmo, 74.
Apesar de tentar intervir, Regis não conseguiu evitar que a mãe, Diva Maria Maia da Silva, 69, fosse baleada. Ela levou cinco tiros e morreu no local. O servidor explicou aos investigadores da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) que havia chegado em casa na companhia de Diva, após ele ter prestado concurso em Goiânia (GO). Cinco minutos depois, o pai entrou no apartamento.
Uma discussão foi iniciada na sequência, pois Ranulfo acusava Diva Maria de manter um relacionamento extraconjugal, informação negada por ela e pelos filhos. Em determinado momento, o vendedor partiu para cima de Diva, que foi protegida pelo filho. Regis se posicionou entre o casal a fim de evitar a agressão.
Disparos seguidos
De acordo com o depoimento de Regis, após a gritaria, uma vizinha entrou na residência do casal com a intenção de tentar acalmar os ânimos. Aparentemente, a discussão havia esfriado, pois Ranulfo foi para o quarto. Ao regressar à sala, já estava armado com um revólver calibre .38 e não deu chances de defesa ao filho, que estava de costas quando recebeu o primeiro disparo.
Mesmo atingido, o servidor ainda se virou de frente, momento em que recebeu mais três tiros no peito, caindo no chão. “O Regis chegou a falar, logo após ser baleado, que o pai o havia matado”, contou o delegado adjunto da 2ª DP, Bruno Gordilho. Depois de descarregar a arma, Ranulfo voltou ao quarto e colocou mais munição no revólver, enquanto Diva e a vizinha socorriam Regis.
O servidor relatou aos policiais que, mesmo baleado, permanecia consciente e, apesar de não enxergar, conseguiu ouvir a barbaridade protagonizada por Ranulfo na sequência. Com a arma recarregada, ele abriu fogo mais seis vezes, contra Diva. Cinco disparos acertaram a mulher, que morreu na hora. A vizinha não foi atingida. Após matar a ex-companheira, Ranufo deixou o imóvel, desceu pelas escadas e entrou em seu carro.
A Polícia Militar (PMDF) montou um cerco e conseguiu prender o criminoso na altura da Quadra 8 do Park Way. Os investigadores da 2ª DP identificaram que Ranulfo havia comprado munições 15 dias antes do crime.
Internado no Hospital de Base do Distrito Federal, Regis ficou alguns dias em observação e já recebeu alta.
Perseguido por helicóptero
O assassino fugiu em um Cross Fox branco, mas acabou capturado por uma equipe da Polícia Militar que o perseguia num helicóptero da corporação.
Veja:
À época do feminicídio, os vizinhos contaram ter ouvido muitos tiros. “Parecia um monte de balão estourando. Na hora, não sabia que era tiro”, disse uma das moradoras do bloco no dia do crime. Um dos porteiros acionou a PMDF. De acordo com ele, foram diversos disparos: “O som era muito alto”.
No Distrito Federal, foram registrados 1.530 casos de violência contra a mulher neste ano (dados até o dia 8/2). Em 2018, 27 mulheres morreram vítimas de feminicídio.
Neste 2019, o Metrópoles inicia um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.