Neste domingo (14/5), comemora-se o Dia das Mães, uma data que, apesar de ter intuitos comerciais, homenageia a figura familiar materna e a maternidade. Na realidade de muitos lares do Distrito Federal, essas mulheres assumem a responsabilidade de criar os filhos sozinhas, e enfrentam diariamente os desafios de ser mãe solo.
Dados levantados pelos cartórios de registro civil do DF apontam que, entre janeiro e 12 de maio deste ano, 971 crianças tiveram apenas o nome materno identificado na certidão de nascimento.
Conforme o levantamento, 2023 teve o menor número de nascimentos para o período desde 2018, totalizando 16.312 recém-nascidos no DF. Isso significa que 5,95% do total de nascidos no Distrito Federal neste ano tem apenas o nome da mãe em seu registro.
Os dados estão disponíveis no módulo do Portal da Transparência do Registro Civil, denominado Pais Ausentes, e que integra a plataforma nacional, administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).
Entende-se por mãe solo a mulher que assume de forma exclusiva todas as responsabilidades pelo filho, sejam elas financeiras ou afetivas. Erroneamente chamadas de “mães solteiras”, pois parentalidade nada tem relação com estado civil.
Não se sabe ao certo quem criou o termo para se referir às mães que criam seus filhos sozinhas como mães solo. Entretanto, o termo agradou quem exerce a maternidade dessa forma e foi adotado com carinho pela comunidade materna.
Maternidade solo em dose dupla
A diarista Samara Dayane Andrade, 25 anos, moradora da Cidade Ocidental, teve a primeira filha, Laura, de 7 anos, quando tinha acabado de completar 19 anos. Na época, ela era casada com o pai da menina, porém, eles acabaram se separando pouco tempo depois, e ela assumiu o papel de criar a filha.
Seis anos depois, ela teve a segunda filha, Luísa, de 1 ano, fruto de outro relacionamento. Atualmente, Samara exerce a função de cuidar, alimentar e criar as pequenas sozinha.
“Minhas meninas são a minha motivação. Por conta delas, retomei meus estudos, comecei a cursar faculdade, fui atrás de realizar o sonho de ter nossa casa própria. Elas sempre falavam que queriam ter o quartinho delas, aquilo entra na nossa mente”, conta Samara.
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Apesar das alegrias de ser mãe, a diarista também enfrenta os desafios da maternidade em dose dupla, sendo uma mãe solo. “Elas são tudo na minha vida, mas não é fácil exercer uma função que, normalmente, é papel de duas pessoas. Você tem que sair cedo de casa para garantir o sustento, quando chega em casa tem que cuidar, dar aquela ajuda na tarefa da escola e, o mais importante, lidar com o sentimento da criança”, destaca.
Os desafios enfrentados por ela, vão além da criação das filhas, mas englobam os preconceitos da sociedade e a solidão.
“Eu me sinto só e acabo acumulando muitas responsabilidades para lidar. Existe muita pressão para dar conta de tudo que envolve a criação delas. Perdi minhas amizades depois que engravidei. Às vezes, por você ter filho jovem demais, as pessoas acham que você é irresponsável, que está pronto para o que der e vier, acham que a gente não precisa de apoio, o que não é verdade”, ressalta a diarista.
Neste Dia das Mães, Samara revela que ainda não planejou como pretende passar a data, mas garante que será um domingo para aproveitar ao lado das filhas. “Minha experiência como mãe solo é que é difícil, mas é gratificante ver um sorriso, ouvir um ‘eu te amo’ verdadeiro, é a recompensa de tudo”, se derrete.
“Amo ser mãe solo, mas odeio a maternidade sozinha”
Ser mãe solo, nos âmbitos financeiros, educacionais e afetivos traz uma série de reflexões no bem-estar feminino. Nesse sentido, os desafios da maternidade tendem a ser mais intensos quando não há um par por perto para ajudar no cotidiano.
A jornalista Malu Carvalho, 28 anos, descobriu que estava grávida do Luiz Gustavo Carvalho, 7 anos, quando tinha acabado de ingressar na faculdade, aos 19 anos. Para ela, o primeiro obstáculo da maternidade solo foi o moral, mesmo que ela sonhasse em ter um filho mais velha.
“Já vem aquela solidão pelas falas das pessoas, nos julgamentos. Eu nunca fui parabenizada, por exemplo. E com o tempo perdi amizades, que deixaram de me convidar pra sair, fui ficando mais sozinha e com mais medo. Além disso, já tive que começar a abrir mão de certas coisas também, como a minha faculdade, que precisei trancar inúmeras vezes pelas dificuldades nessa caminhada”, detalha Malu.
De acordo com ela, que também é fotógrafa e criadora de conteúdo digital, as dificuldades aumentaram ainda mais após o nascimento do menino, principalmente nos episódios em que o pequeno precisou ser internado por questões de saúde.
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“Os desafios aumentaram muito, porque não houve participação nenhuma do pai. Me esforcei muito pra tentar incentivar algo que deveria ser natural, mas não é. Eu não escolhi ser mãe agora e ele escolheu nunca ser pai. É a famosa frase: ‘amo ser mãe solo, mas odeio a maternidade solo”, destaca.
Malu também enfatiza os desafios que vão além da criação do Guga – carinhosamente apelidado -, mas que envolvem o bem-estar feminino, mercado de trabalho e inseguranças.
“É muito desafiador educar um outro ser humano sozinha todos os dias. Eu fui bloqueada do mercado de trabalho antes mesmo de entrar nele, por ter um filho. É triste ser entrevistada e citarem a criança como empecilho pra eu poder trabalhar Já tive de abrir mão de relacionamentos, simplesmente porque isso não cabia na minha vida. A gente abre mão até do descanso”, desabafa a jornalista.
Lei dos Direitos da Mãe Solo
Tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3717/21 que assegura, por 20 anos, uma série de benefícios para as mães solo. O texto foi aprovado no Senado Federal, no início de 2022.
Entre as medidas previstas na Lei dos Direitos da Mãe Solo estão o pagamento em dobro de benefícios, a prioridade em creches, cotas de contratação em grandes empresas (100 ou mais empregados), licença-maternidade de 180 dias e subsídio no transporte público.
As medidas propostas beneficiam mulheres provedoras de família monoparental registradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e com dependentes de até 18 anos de idade. Para mães com filhos dependentes com deficiência, não há esse limite de idade.
O projeto será analisado por uma comissão especial e, depois, será levado para apreciação no Plenário da Câmara.
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