Os hábitos culturais da população do Distrito Federal revelam que a participação nos eventos de Carnaval deste ano estiveram relacionados principalmente com a faixa etária, renda pessoal, religião e gênero dos moradores da capital, sendo os homens de renda média alta os que mais estiveram presentes nos dias de festividades.
Um estudo divulgado pelo Observatório de Políticas Públicas (ObservaDF), nessa terça-feira (2/4) aponta que 24% dos brasilienses pularam o Carnaval em fevereiro deste ano. Cerca de 19% o fizeram em uma festa, em sua casa ou na casa de amigos, e 11% foram a um bloco carnavalesco de adultos.
A pesquisa revela que as maiores diferenças por perfil sociodemográfico foram identificadas no quantitativo de pessoas que participaram de bloquinhos, bailes e festas. Entre moradores de regiões administrativas mais ricas, e mais centrais, cerca de 17% foram aos blocos de Carnaval, enquanto nas áreas de renda mais baixa apenas 5% o fizeram.
“É imprescindível o estímulo a blocos e festividades descentralizadas, nas áreas mais periféricas, ou seja, fora do plano piloto. O Carnaval de Rua, enquanto manifestação popular, não deveria se transformar em uma festa elitizada e excludente”, destaca o estudo.
A diferença se estende também na divisão entre as faixas etárias, sendo os mais jovens aqueles que tiveram maior participação nos eventos carnavalescos. 21% para pessoas entre 16 e 24 anos, 15% para pessoas entre 25 e 34 anos, 11% para pessoas entre 35 e 44 anos, 7% para pessoas entre 45 e 59 anos e 1% para pessoas com 60 anos ou mais.
Setor Carnavalesco Sul – Foto Matheus Veloso (14)
Setor Carnavalesco Sul – Foto Matheus Veloso (22)
Setor Carnavalesco Sul – Foto Vinícius Schmidt (5)
Setor Carnavalesco Sul – Foto,Vinícius Schmidt
Setor Carnavalesco Sul – Foto Matheus Veloso (11)
Setor Carnavalesco Sul – Foto Matheus Veloso (18)
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Desigualdade por gênero
A pesquisa Hábitos Culturais no DF: A Presença da Desigualdade, destaca a diferença de participação entre pessoas identificadas com o gênero masculino e com o gênero feminino, tanto nos blocos, quanto em bailes e em festas.
Enquanto 14% dos homens foram a um bloco de Carnaval de adultos, apenas 9% das mulheres o fizeram, enquanto 10% dos homens foi algum Baile de Carnaval, apenas 5% das mulheres do fizeram. Em relação às festas, 24% dos homens foram, e apenas 15% das mulheres estiveram em alguma.
Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do ObservaDF, Frederico Bertholini, a menor participação de pessoas do gênero feminino pode estar atrelada ao risco de sofrerem importunação sexual ou assédio, situação que o poder público deve se atentar.
“Algumas pessoas acreditam inequivocadamente que têm liberdade de cometer crime no Carnaval, pois bebem mais e ficam mais interessadas em interações que envolvem ficar com outras pessoas. Por isso, fica o alerta para a necessidade de mais campanhas de conscientização e punição para aqueles que cometem assédio. Para, quem sabe, com o aumento da segurança, essas mulheres se sintam mais seguras em frequentar esses eventos”, pondera Frederico.
Religião
Quase 93% dos evangélicos pentecostais não brincaram Carnaval nenhum dia em fevereiro de 2023, já entre pessoas que seguem religiões de matriz africana esse percentual foi consideravelmente mais baixo, cerca de 43% não participou, número mais próximo de pessoas sem religião, com 51%.
“Os resultados indicam que ser de religiões afro-brasileiras ou não ter religião aumenta a probabilidade de participação no Carnaval, enquanto ser de religião evangélica pentecostal diminui a probabilidade de participação”, ressalta o pesquisador.
Viagens
A proporção de pessoas que viajou neste último Carnaval foi relativamente baixa, apenas 7%. Renda, por razões evidentes, é a principal variável que explica a chance de viajar no feriado.
Dentro do grupo de pessoas de alta renda, 16% optaram por viajar no período. Dentro do grupo de renda baixa, apenas 4% saíram do DF durante os dias de folia.
Goiás e Bahia foram os principais destinos dos moradores de Brasília que viajaram no carnaval, 28% e 26%, respectivamente.
Sugestões de política
O estudo reconhece que as diferenças de participação por idade não necessariamente decorrem de desigualdade ou de algum processo de exclusão, mas sim de preferências pessoais.
“Tendo em vista os resultados apresentados no estudo, destaca-se a possibilidade de ampliar a oferta de produtos culturais que estimulem a participação de pessoas mais velhas e dos evangélicos. Além disso, estimular a criação de blocos e festividades descentralizadas, nas áreas mais periféricas, ou seja, fora do plano piloto”, destaca Frederico.
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