As reformas econômicas radicais do presidente Javier Milei na Argentina estão atingindo a indústria brasileira. O assunto deve ser pauta da cúpula de chefes de estado do Mercosul na sexta-feira (6/12), no Uruguai.
O cenário é particularmente preocupante na indústria de autopeças. A Argentina é o principal comprador de peças de carro do Brasil.
As exportações acumuladas no ano registraram uma queda de 22,2%, quando se compara os números consolidados de 2024 com o mesmo período de 2023, segundo dados organizados pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
“A nossa indústria automotiva está bem preocupada de uma maneira geral”, avalia o professor de Engenharia Automotiva da UnB, Evandro Teixeira, que conhece de perto o setor.
Empresas fornecedoras são responsáveis pela produção de itens como amortecedores, pneus e bancos, que são vendidos para as montadoras de veículos argentinas.
“Quando falamos em crise na indústria automotiva, isso se refere não apenas às montadoras, mas também às empresas fornecedoras que orbitam esse setor”, afirma o professor.
Impacto Milei
A embaixadora Gisele Padovan, que é secretária de América Latina e Caribe, destacou essa questão no setor automotivo durante uma conversa com a imprensa no Palácio do Itamaraty esta semana.
Ela avalia que a eleição de Milei é a única explicação para uma queda no total de exportações do Brasil para a Argentina no período de um ano.
“O que mudou este ano? Entrou um novo governo argentino que quis promover um ajuste bastante forte. Então, isso tem implicações, infelizmente, negativas para nós”, conclui a embaixadora.
Gisele pontua que existe um aumento da pobreza e do desemprego na Argentina, o que implica na queda nas vendas. “O impacto é enorme. Tenho certeza que as pequenas montadoras do ABC estão sofrendo com essa queda, repito, de quase 20% nas nossas exportações para a Argentina”.
Desafios do Mercosul
Apesar de ser uma das áreas mais importantes na relação Brasil-Argentina, a cadeia automotiva ainda não está dentro do Mercosul formalmente. Isso significa que ainda não existem acordos entre os países do bloco econômico especificamente para a área automotiva.
Lula deve chegar ao Uruguai na quinta-feira (5/12) e voltar na sexta-feira (6/12). A principal expectativa é a ratificação do acordo comercial entre o bloco latino-americano e a União Europeia (UE), em tratativa há mais de duas décadas.
Durante o evento será transferida do Uruguai para a Argentina a presidência rotativa do Mercosul para os próximos seis meses.