Ataques de cães de grande porte que ficam soltos pelo Distrito Federal preocupam a população. Em 2024, pelo menos 4 casos de ataques a humanos ou outros cachorros envolvendo cachorros de grande porte já ocorreram. Em todos os casos, os animais agressivos tinham dono, mas estavam na rua sem o devido acompanhamento. O especialista em doenças infecciosas e zoonoses, Lucas Edel, médico veterinário, afirma que a maior incidência de casos de agressões cometidas por cães, envolve bichos que têm tutores.
No artigo 11 da lei Nº 2.095, de 1998, do DF, afirma que “é permitida a permanência de cães nas vias e logradouros quando portadores de registro e conduzidos com coleira e guia, por pessoas com tamanho e força necessários a mantê-los sob controle”. A lei também cita que os cães de grande porte, de raças destinadas a guarda ou ataque, devem usar focinheira quando estiverem em locais públicos.
O veterinário Lucas Edel aponta que o maior número de agressões que geram desfigurações, são por cães que têm teoricamente donos. Para Edel, a questão é que os tutores precisam entender que o cão pode apresentar comportamentos inesperados. “Como por exemplo: se meu cão é muito manso, ele pode ser estimulado por um fator ambiental que vai torná-lo agressivo”. Em Brasília, o médico explica que é super comum ter cães brincando um com outro em espaços entre quadras, mas quando passa outro cão, gera um gatilho nos animais que estavam brincando normalmente, o que os leva a partir para o ataque. “Mas eram animais super dóceis, e um deles entendeu que o novo cão teoricamente era um perigo. E as pessoas não entendem esse tipo de comportamento”.
O recomendado por Lucas, e pelos órgãos de saúde, é que os tutores sempre usem a guia ao saírem com os animais. “Para que você mantenha o cão dentro de uma condição em que ele não tem acesso livre, porque isso pode gerar uma agressão a uma criança, isso pode ter vários desfechos que a gente não espera”. Lucas aponta que do ponto de vista científico, o que acontece é que as pessoas costumam projetar expectativas e comportamentos antropocêntricos delas nos animais. Lucas aponta que os seres humanos vivem momentos que são bem atípicos para um cachorro, onde ele pode estar sob tensão de stress, porque ele não está acostumado com coisas como o ruído do ambiente. “Mas é uma especulação minha que eu coloco, por exemplo, que ele tem que desestressar. Então, como eu me desestresso no shopping, eu também acho que ele vai desestressar no shopping comigo”, exemplifica. Essa situação, pode desenvolver um estado de agressão, que vindo daquele animal, não é esperado.
O desafio está em fazer as pessoas cumprirem a lei. “Elas dizem: eu deixo o animal solto porque ele não faz nada. Mas ele não faz nada até ter um comportamento diferente, e a gente não tem um controle total sobre o animal”, destaca. E para além da agressão física contra uma pessoa ou um outro animal, o cão na rua está sujeito a transmissão de doenças infecciosas para um outro animal ou para seres humanos, e também pode gerar acidentes automobilísticos. “São tantos desdobramentos, que a posse responsável do animal não é aplicada, por questões culturais, ou sociais”. Lucas aponta que em áreas de maior vulnerabilidade social, existe essa condição cultural, do cão passar o dia na rua e depois voltar para casa. O veterinário acredita que deveria existir uma conscientização que aquele animal é uma extensão da família e, portanto, ele precisa de cuidados e de regras.
População de cães e gatos no DF
No DF, não é possível encontrar dados específicos sobre o número de cães soltos na rua, segundo a Subsecretaria de Proteção Animal, para quantificar esse número estão sendo feitas tratativas para a realização de um censo populacional animal, que envolverá equipes de campo para percorrer diferentes regiões contando e registrando os animais. O que se sabe, é que atualmente, segundo a Pesquisa Populacional de Cães e Gatos, da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), o DF tem 3.010.881 habitantes, e 60% dessas pessoas possuem animais domésticos. A pesquisa tem o objetivo de mapear a população de animais de estimação para embasar futuras ações de controle populacional.
Neuza Maria de Oliveira, 69 anos, aposentada, tem um cachorro chamado Alfredo, e sempre sai com o animal para passear nas quadras do Guará. “Sempre na coleira, porque é perigoso sair com eles sem uma guia. Eu já vi cachorro sair da grade e pegar o outro”, comenta. Quando Neuza se depara com algum cão sem coleira, sempre faz questão de pedir para os donos usarem uma. “Pode ser perigoso para o meu ou para o dele também, Às vezes a pessoa fala que o cão dela não pega outro bicho. Eu digo: mas o meu pega”.
Antônio Lacerda, 64 anos, empresário, adotou Biscoito dois anos atrás. Ele faz questão de usar uma guia, ao fazer os passeios diários com o cão. “Nós pegamos ele na rua. Ele estava abandonado”. Antônio comenta que tem muitos cachorros que ficam soltos pela região onde ele mora, mas são animais domésticos que os donos criam soltos. “Para tudo na vida, existe um risco. E para um cachorro solto na rua, desse porte, um cachorro pequeno, não tem tanto perigo, ele pode ficar nervoso, pode latir, mas não atacar alguém”, acredita.
Mas para a segurança dele e dos outros, Antônio concorda com a necessidade do uso da coleira. “Porque o animal não sabe o que faz. Ele se engraça, vai pelo instinto, e às vezes tem muitas pessoas que não gostam, o meu mesmo passou por um gato ali, queria avançar no gato”, adiciona.
A Secretaria do Meio Ambiente e Proteção Animal destaca que cães soltos podem se tornar agressivos, especialmente se se sentirem ameaçados ou estiverem defendendo seu território. Eles podem atacar outras pessoas, animais de estimação ou até mesmo crianças.
A pasta aponta que os cães que vivem nas ruas muitas vezes enfrentam condições adversas, incluindo fome, sede, doenças e ferimentos não tratados. E ressalta que eles também estão sujeitos a maus-tratos por parte de pessoas ou outros animais. Como orientação da pasta, o tutor precisa reconhecer que é sua responsabilidade garantir a segurança e o bem estar do seu animal, em todos os momentos, quer seja em casa ou quando estão ao ar livre. Além de garantir a identificação do animal, para que possa ser facilmente encontrado e devolvido em caso de fuga. Essa identificação pode ser uma coleira contendo nome do bichano, e o telefone do tutor. Como destacado pelo órgão, essa é uma atitude simples que evitará que ele seja mais um nas ruas.
Os proprietários de cães devem manter seus animais sob controle, usando cercas, coleiras e proteções adequadas, e os levando para passear com segurança. Para os casos de cães de grande porte, a pasta salienta que é essencial o uso da focinheira, especialmente em situações onde o animal pode estar exposto a estímulos estressantes ou perigosos, por exemplo em ambientes onde os animais interagem com outros, como em parques.
Segundo a Secretaria de Saúde do DF, o recolhimento de cães e gatos é feito quando o animal agrediu seres humanos e que não pode ser observado no próprio local onde foi encontrado. O animal é recolhido quando se trata de uma agressão a um ser humano nos últimos 10 dias, ou que mudou o comportamento clínico nos últimos dias. Também é necessário possuir documentos que comprovem a agressão tais como: atestado médico e cartão de vacina do ser humano com aplicação de vacina antirrábica nos últimos 10 dias. A pasta ressalta que no caso de agressão contra outros animais a SES não observa o animal.
A importância da castração
Alessandra Cunha Alves, protetora de animais da ong Lar dos Anjos, observa que em certas regiões como Ceilândia e Samambaia, as pessoas têm a mania de deixar os cães darem “a famosa voltinha” para fazer as necessidades fisiológicas. “Mas aí o cachorro não é castrado. Aí ele passa pelo risco de doença, passa pelo risco de emprenhar outra cachorra. Então isso é uma falta de conscientização, principalmente da galera mais pobre mesmo”.
Algo que a protetora tem notado, é que muitos animais de raça, e muitas delas de grande porte, estão sendo abandonados nas ruas. “Principalmente pitbull. A gente só doa pitbull castrado. Ou então se a gente doar sem castrar, a gente exige a castração do próprio adotante”, categoriza. Ela explica que o adotante muitas vezes coloca o pitbull para castrar, e a partir disso, gera o abandono desses filhotes. “Porque nem todo mundo tem condições de criar um pitbull. Muita gente quer ter um pitbull, mas as pessoas não conhecem a realidade do que é ter um pitbull, um cachorro que precisa de triplo de cuidado, triplo de treinamento”, frisa. No dia a dia dos resgates da ong, Alessandra conta que já encontrou muitos da raça abandonados no meio do mato.
Para Alessandra, é preciso que haja um reforço nas campanhas de castração nas partes mais pobres do DF. “Principalmente nas partes mais pobres, onde tem muito cachorro abandonado”. Alessandra acredita que a castração salva, porque o cachorro não vai querer cruzar, vai diminuir a vontade dele de marcar território, não vai ficar brigando por fêmea. Então a castração tem uma série de benefícios.
O Lar dos Anjos pede ajuda da população, para poder continuar o trabalho, para que doem ração, medicamento, vacina e acessórios.
Serviço
Lar dos Anjos – instagram @lardosanjospet pix para doações 54922388000107
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