A cotação recorde do dólar no Brasil facilita a vida de exportadores, conforme especialistas ouvidos pelo Metrópoles. A depreciação da moeda brasileira faz com que os produtos nacionais fiquem mais baratos no exterior e rendam mais lucros para quem os vende.
Na última semana, o dólar subiu aproximadamente 3,5%. Começou cotado a R$ 5,80 e fechou a sexta valendo R$ 6, recorde histórico. O principal fator que levou à alta foi a posição do mercado a respeito do corte de gastos anunciado pelo governo, considerado insuficiente para o equilíbrio das contas públicas.
Economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), Andre Braz considera que o dólar alto é positivo para quem exporta, mas a disponibilidade de produto no mercado interno é um ponto de atenção.
“Quem exporta vai ganhar um pouco mais, porque o dólar valorizou. Então, isso é bom. Mas, em contrapartida, isso desabastece o mercado brasileiro, porque quanto mais você exporta, menos sobra aqui no Brasil”, explica Braz.
O economista da FGV acrescenta que a menor disponibilidade de produtos aqui pode vir a gerar inflação. “A inflação aumenta não só pelo que a gente importa mais caro, mas também pela quantidade do que a gente exporta, como isso afeta o mercado doméstico, sugerindo aumento de preços”, contextualiza.
Dentre os produtos brasileiros mais exportados estão soja, óleos brutos de petróleo ou minerais betuminosos, minério de ferro e seus concentrados, açúcares e melaço e carne bovina.
Se por um lado o dólar alto é bom para os exportadores, ele também pode levar a uma espécie de efeito rebote a depender da variação da moeda e de por quanto tempo ela fica em alta.
“Por exemplo, na agricultura, o que mais vai influenciar são aqueles produtos que você compra. Normalmente, os insumos que vêm de fora, como os pesticidas, o próprio insumo para a produção, com certeza vão ficar mais caro”, lembra economista Aurélio Troncoso, pesquisador do Centro de Pesquisas da Unialfa.
De onde vem a alta do dólar
A disparada do dólar tem relação com o pacote fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28/11). O governo federal estima uma economia de R$ 70,5 bilhões em dois anos.
Um dos pontos que provocou nervosismo no mercado e a consequente alta do dólar foi o anúncio da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil de salário. O governo afirma que vai compensar a redução na arrecadação com outras medidas, mas não convenceu o mercado.
O governo planeja compensar a renúncia na arrecadação com uma taxação maior nos salários superiores a R$ 50 mil.