O cantor sertanejo Leonardo, que tem sido alvo de ações judiciais movidas por pessoas que adquiriram terrenos em empreendimento irregular divulgado por ele em Mato Grosso, era tratado como “investidor” dos loteamentos por pessoas de Querência (MT). Exemplo disso é um vídeo no qual ele aparece ao lado do ex-prefeito da cidade Fernando Gorgen (União) e ao qual o Metrópoles teve acesso.
Nas imagens, registradas durante uma das visitas do sertanejo ao município para participar do lançamento de empreendimentos, Gorgen diz: “Com muita alegria, hoje, [quero] agradecer a presença mais uma vez do nosso companheiro e amigo Leonardo, investidor do primeiro condomínio fechado de Querência. Obrigado pela presença aqui”.
Ao que o cantor respondeu: “Obrigado, senhor prefeito. Um brinde aqui ao nosso condomínio, AGX e Leonardo, aqui em Querência. Um grande beijo para todo o Mato Grosso e para todo o Brasil, e dizer para vocês que querem investir bem o dinheiro de vocês: venham aqui para Querência. AGX e Leonardo, venha conferir. Vale a pena”.
Veja:
Após ser procurado pela reportagem do Metrópoles, que revelou no sábado (8/3) os processos movidos contra o cantor por suposta participação no caso dos loteamentos irregulares em Querência, Leonardo respondeu, via assessoria de imprensa, que atuou apenas como garoto-propaganda dos empreendimentos da AGX e que não tem participação no negócio, tampouco é sócio dos residenciais.
Empresa vendeu terrenos antes de regularizar área
Lançado entre o final de 2021 e o início de 2022, o condomínio Munique Smart Life oferecia cerca de 800 lotes e vendeu centenas de unidades. O terreno do residencial, no entanto, que havia sido adquirido pelo empresário Aguinaldo José Anacleto, dono da AGX, meses antes, ainda não estava totalmente quitado, muito menos em situação regular perante os órgãos públicos locais.
Além disso, a área é alvo de ação de reintegração de posse por parte dos antigos donos, que alegam que Anacleto não teria cumprido o acordo e efetuado os pagamentos, conforme o combinado. Eles afirmam no processo que, do valor total do negócio de R$ 12,9 milhões, foram pagos, apenas, R$ 4,7 milhões, com atraso evidenciado e cheques sem fundo a partir da terceira parcela, prevista para maio de 2023.
Até hoje, três anos depois do lançamento, os compradores seguem sem resposta, sem acesso aos terrenos comprados e movem ações na Justiça contra a empresa e o artista. Leonardo esteve em Querência mais de uma vez, entre 2021 e 2022, para participar de lançamentos de residenciais, ao lado de Anacleto e do então prefeito do município, Fernando Gorgen.
Parceiro?
Os clientes alegam que o sertanejo deu a entender que também seria dono do empreendimento, o que atraiu o interesse de muitos compradores, dada a credibilidade e a notoriedade dele, enquanto artista.
As divulgações associavam o cantor ao condomínio, colocando-o como “parceiro” do empreendimento. Em uma das visitas ao município, ele gravou o seguinte vídeo:
Cotas de participação
Em resposta ao Metrópoles, o grupo AGX informou que o empreendimento Munique Smart Life não envolveu a venda de lotes, mas sim “a captação de investidores por meio de cotas dentro de uma Sociedade em Conta de Participação (SCP)” e que o residencial segue em desenvolvimento, “com todas as aprovações necessárias até o momento devidamente obtidas”.
Sobre a participação do cantor Leonardo, a empresa afirma que “ele não tem nenhuma vinculação ou responsabilidade contratual sobre a adminsitração e execução dos empreendimentos em Querência”.
O sertanjo, conforme a AGX, “firmou uma parceria de publicidade, cedendo o direito de uso de sua imagem” e, ao firmar tal parceria, “apostou no empreendimento” e, em contrapartida, teria “participação em cotas”, nos mesmos moldes dos demais clientes.
A empresa responde, ainda, sobre a ação de reintegração de posse do terreno: “O Grupo AGX esclarece que não há decisão judicial definitiva” e “contesta os argumentos do vendedor do terreno, que fixou o pagamento em sacas de soja e não aceitou a variação do índice conforme determina a lei. A negociação segue judicialmente, mas não há inadimplência reconhecida e a paralisação das obras decorre da inadimplência de investidores, incentivada por calúnias e desinformação”.
A reportagem tenta contato com o ex-prefeito de Querência Fenrando Gorgen para obter um posicionamento, mas não teve retorno até o momento. O espaço segue aberto.
