Investigado por roubar músicas de compositores sertanejos, Ronaldo Torres Souza publicou duas canções gravadas pelo cantor Murilo Huff como se fossem da autoria de Almir Torres – um personagem criado por Ronaldo para manter o anonimato enquanto fraudava composições e jogava em plataformas de streaming, lucrando, assim, com as suas reproduções. Ele foi denunciado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) por violação de direitos autorais.
“A ousadia é tamanha, mas tamanha que sobrou até para músicas e a própria voz de Murilo Huff, cantor e compositor conhecido nacionalmente e que também possuía algumas músicas no YouTube com mais de 100 milhões de visualizações”, cita o trecho da denúncia do MPGO.
A investigação encontrou pelo menos 27 situações de composições de outros cantores, mas que Ronaldo assumiu a autoria para publicar as músicas e ganhar dinheiro com a reprodução.
Os nomes adotados por Ronaldo identificados pelo Ministério Público de Goiás foram: Aldo Vanuti, Alexandre Volts, Alla Rick, Amadeu Lins, Andre Allk, Antony Faisão, Augusto Travis, Barto Lima, Breno Cardoso, Caike Lobato, Carlos Brenan, Carlos Makito, Carlos Max, Cesar Baroni, Diego Damian, Dinho Chaves, Elias Solto, Elizel Torres, Fabio Biu, Fabio Brits, Fabio Kaue, Fabricio Garan, Fagner Fael, Gean Gal, Gean Loyola, Geraldo Gel, Henrique Feitosa, Hugo Hulk, Junior Kobal etc.
Entenda o esquema para roubar música
- Ronaldo, conhecido como Alex Ronaldo, tinha uma carreira como cantor.
- Ele chegou a gravar em 2016 a música “Sexta-feira, sua linda”, que chegou a ser compartilhada pelo jogador de futebol Neymar na época.
- Por ter essa fama, Ronaldo estava inserido em listas de transmissão no Whatsapp que tinham o objetivo de cativar artistas, empresários e produtores para investirem em canções.
- Nessas listas, compositores gravavam guias – música só com voz e violão, mostrando o início e o refrão. A ideia é poder apresentar uma versão resumida sem ser ainda a finalizada da canção.
- Recebendo esses conteúdos, Ronaldo salvava as guias e as publicava sem dar um acabamento na canção.
- Para despistar, ele criava nomes falsos e fazia capas de discos com uso da Inteligência Artificial.
- Ele habilitava para o dinheiro arrecadado em streaming caísse em sua conta.
- Para aumentar os repasses, Ronaldo ainda contava com uma fazenda de streaming com 21 computadores em repetidos plays.
A investigação aponta que em 10 de dezembro, Ronaldo publicou as músicas “Modo Avião” e “Zero Real”, dos autores Ricardo, Ronael, Junior Pepato, Elcio de Carvalho, Rafael Augusto e Murilo Huff. “Ronaldo violou, mediante oferecimento ao público de fonograma, indevidamente apropriado, por meio de distribuição em plataformas de streaming”, completa a denúncia.
Foi por meio de uma playlist de músicas aleatórias elaborada pelo Spotify que um dos compositores que teve a música roubada descobriu ser vítima. A canção mesmo gravada pelo cantor Murilo Huff não causou nenhum constrangimento para Ronaldo publicar dizendo que a voz do cantor famoso era de “Almir Torres”. A música desse caso era Eu te subestimei, que teve a guia gravada por Huff, mas foi lançada de fato na voz de Zé Felipe, filho do cantor Leonardo. Após a gravação de Zé Felipe, a própria gravadora do cantor se mobilizou para derrubar outras versões que não a oficial, derrubando assim a versão fake.
Quem é e o que diz Ronaldo Torres
Ronaldo fez sucesso em 2016 com a música Sexta-feira, sua linda, que chegou a ser compartilhada pelo jogador de futebol Neymar na época. Ele fazia parte da dupla Alex e Ronaldo, mas, com a separação do grupo, o cantor não perdeu tempo e, espertamente, assumiu para si o nome de Alex Ronaldo. Nas redes sociais, ele divulga imagens de shows e fotos com carros de luxo.
Em janeiro deste ano, Ronaldo foi denunciado à Justiça de Goiás e tem colaborado nas investigações, conforme informou o MP. Em nota, o empresário de Ronaldo, Sílvio França, confirmou que o seu cliente está colaborando com as investigações. Ele ressaltou que Ronaldo não está bem e tem feito terapia porque, segundo ele, “cadeia não cura ninguém”.
“Uma coisa é botar um bandido na cadeia, que está acostumado com cadeia, outra coisa é botar uma pessoa que não tem um passado nada sujo, tipo um passado limpo e botar na cadeia”, destaca o empresário.
“Ele está cooperando com a Justiça. Então, vamos deixar a Justiça resolver o que tem que resolver, mas ele tem que voltar a trabalhar, tem que voltar a trabalhar e viver”. Sílvio reforçou que a operação atrapalha a carreira do cantor e disse, ainda, que o “Brasil tem tantas outras coisas mais importantes que estão acontecendo”.
O Metrópoles também questionou ao Spotify sobre as medidas adotadas para identificar e coibir fazendas de streaming, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.