Nesta data comemorativa, veja histórias de orgulho de pessoas que transitam pelo espectro autista. O adestrador de cães Arthur Skyler, de 22 anos, resume a condição em uma frase: “É sobre ser único”.
A engenheira Daniela Freitas foi diagnosticada com Síndrome de Asperger (TEA nível 1) aos 15 anos, mas rejeitou o diagnóstico até os 24 anos, quando começou um acompanhamento com uma psiquiatra.
”Só ao trabalhar ao lado da psiquiatra tive a chance de começar a entender que minhas dificuldades tinham nomes e que, com um suporte adequado, a vida poderia ser melhor”, explica.
Daniela conta que, por muitos anos, acreditou que todos os autistas seriam iguais a ela. Mas logo, a vida a ensinou o contrário, com o diagnóstico do filho Aquiles, que recebeu o parecer com 1 ano de idade.
O pequeno, hoje com 5 anos, apresentava diversas dificuldades, mas tanto Daniela quanto os médicos demoraram para identificar a condição. ‘‘Meu filho que me ensinou de fato o conceito de espectro autista”, diz.
A partir desse momento, a engenheira começou a navegar pelo mundo do autismo. Estuda a condição e faz pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista, no Child Behavior Institute of Miami.
Ela começou a compartilhar o conhecimento adquirido nas redes sociais, e ajuda mais mães a estarem preparadas para o diagnóstico. Daniela conta que, além de auxiliar o filho, os estudos também a ajudam a se entender.
”No momento em que comecei a estudar sobre o autismo por conta do meu filho, finalmente me conheci e comecei a me aceitar como sou. Todo esse conhecimento não foi simples. Por isso, vi a necessidade de dividir através das minhas redes sociais”, completa.
A engenheira destaca que o Dia do Orgulho Autista carrega muitas questões históricas relacionadas aos critérios diagnósticos, intervenções e estereótipos relacionados ao autismo. ”É um dia que não se define em poucas palavras, pois é uma mistura de conquistas, dores e reflexões. Porém, posso trazer uma das palavras que fazem o dia 18 de junho ser um dia tão especial: informar.”
Laís Coleho — Foto: Foto: Gabriel Mota/ Arquivo pessoal
Para a estudante de engenharia Laís Coelho, o orgulho autista é sobre se entender e respeitar a si mesmo, além uma luta constante contra o preconceito e ignorância. Ela acredita que falar sobre o assunto quebra, cada vez mais, os estereótipos. E também traz mais pessoas para outras discussões, sobre transtornos, síndromes e deficiências.
”Eu sou sim normal, ser diferente não é ser anormal, nem algo triste ou trágico. Eu tive que entender isso e comecei a trabalhar para não acreditar em palavras negativas sobre a minha deficiência”, explica Laís.
A estudante descobriu que tinha autismo aos 17 anos. Ela já tinha apresentado sintomas leves, e fazia acompanhamento com psicólogo para tratar o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), mas o diagnóstico do TEA veio anos depois.
Laís relembra que, quando era pequena, sentia muito incômodo com sapatos e costumava usar as mesmas roupas até alguém escondê-las. A estudante acredita esse foi o primeiro sintoma.
”Sempre andei descalça ou com chinelos na rua. Além de ter roupas específicas que eu usava até esconderem de mim, enquanto outras eu não conseguia vestir de jeito nenhum, me incomodava muito”, completa
Criada junto com duas irmãs, Laís sempre foi mais hiperativa e distraída. De acordo com a estudante, isso dificultou a vida escolar. ”Eu comecei a ter dificuldade em apresentações, ficava deprimida e exausta toda vez que voltava da escola”, comenta. Apesar disso, sempre teve notas boas.
Para a jovem, o orgulho autista precisa alcançar mais e mais pessoas para que, aos poucos, o processo de luta contra o capacitismo e ignorância seja acelerado.
Arthur Skyler e seu cão de serviço Atlas — Foto: Foto: Arquivo pessoal
O adestrador de cães Arthur Skyler, de 22 anos, foi diagnosticado aos 20 anos. Esteriotipias – movimentos repetitivos – e dificuldades de comunicação foram os principais sintomas.
”A gente acaba sendo visto como diferente por todo mundo e, por isso, acaba ficando limitado no trabalho e nas amizades, no dia a dia”, comenta.
”Ao mesmo tempo em que você está ali vivendo, também está tentando sobreviver, porque o mundo não está preparado para pessoas com deficiência. As pessoas tentam incluir a gente, mas não é de fato inclusivo. Ainda mais por ser uma deficiência invisível, muitas pessoas acabam julgando muito e, por não verem, acham que não existe”’, completa Arthur.
O jovem comenta que, com o diagnóstico, conseguiu de fato entender os processos pelos quais passava, além de compreender suas necessidades e limites. O brasiliense trabalha como adestrador de cães, e foca o serviço em crianças e adultos autistas.
”Eu que treinei o meu cachorro e, dessa forma, consegui me inserir na sociedade. A partir dele, eu consegui ter a minha independência. Antes, eu não conseguia sair de casa ou trabalhar direito, então tornei isso a minha profissão”, completa.
Skyler destaca que a luta autista acontece todos os dias do ano. ”Muitas pessoas tratam a gente como criança, ou acham que a gente está fingindo. Então, realmente, todo dia é dia de se orgulhar de ser autista, e de sair para lutar pelos nossos direitos”, completa.
”O autismo é muito mais do que ser diferente das outras pessoas. É sobre ser único, até porque cada autista experimenta o espectro de uma forma diferente.”
O quebra-cabeça foi o símbolo escolhido para a conscientização em relação ao autismo — Foto: Getty Images
O psiquiatra Alisson Marques explica que os primeiros sinais do autismo são observados, normalmente, no segundo ano de vida. Em algumas crianças, no entanto, é possível perceber alguns indícios no desenvolvimento já no primeiro ano de vida.
Segundo o especialista, as manifestações clínicas podem se dar de diversas formas. Mas o comportamento é um aspecto fundamental. Veja algumas situações:
Para o médico, é importante entender que o tratamento para o autismo é multiprofissional.
“O paciente precisa do psiquiatra, do psicólogo, do fisioterapeuta, do nutricionista, do fonoaudiólogo. Mas tudo isso deve estar associado a uma família que esteja orientada, que entenda que a criança ou adolescente precisa ser estimulado”, diz.
- Comportamentos mais restritos
- Comportamentos mais repetitivos
- Movimentos estereotipados
- Dificuldade de comunicação social como interagir, iniciar e sustentar uma conversa, responder o que é esperado, se ajustar socialmente ao que o ambiente espera
- Dificuldade de reconhecer uma linguagem não verbal, como face, gestos, contato visual
- Atraso na linguagem