Na Grécia antiga, o cidadão que não participasse da política era denominado “idiota”, (idiṓtēs: indivíduo particular, em oposição a homem do Estado).
Tal entendimento fez Sigmund Freud extrair e definir o “Id” como um dos agentes constitutivos do aparato psíquico humano.
No modelo estrutural da psique freudiana, o “Id” constitui o componente nato das pulsões primitivas intestinas (tipo: aquele que olha para o próprio umbigo!). Em se tratando de não ser idiota, e adentrando o campo da política, com base no mínimo de realismo político de Hobbes, Maquiavel, ou mesmo de Nietzsche e sua filosofia dos meios e dos fins na política, devemos observar que a ação humana tem por princípio um determinado “valor” – irracional amoral e não transcendente – colocado pelo Ser humano como seu ideal de existência (o Ser que se manifesta no Ente).
Segundo Hobbes, isso levaria ao “estado natureza” da “guerra de todos contra todos”. Todavia, por tratar-se de “animal político”, o Ser humano busca transformar o valor real de sua ideação subjetiva em um valor universal objetivo, expresso socialmente na economia, no direito, nas instituições de Estado e nas diferentes dimensões sobre as quais se expressa um sistema valorativo.
Não podemos esquecer o trabalho dos sofistas da Grécia clássica cobrando taxas para instruir sobre retórica. Adentramos, então, no campo da ideologia, entendida como um sistema de ideias que objetiva a legitimação do poder. No esforço dinâmico para “realizar” e, ao mesmo tempo, “tornar real” e universal o valor subjetivo de sua “ideia original”, necessariamente, o Ser humano corrompe esse “ideal”: a partir do momento que passa a se expressar na realidade, de forma a convencer seu semelhante, a ação humana deixa de corresponder ao “ideal” que deu início a sua realização.
Poderíamos relacionar, ontológica e epistemologicamente, o martírio do titã Prometeu (antevisão, em grego), acorrentado no monte Cáucaso, após entregar aos mortais o fogo roubado dos deuses. Poderíamos evocar o Mito da Caverna e entendimento sobre o “mundo sensível” e “mundo inteligível” de Platão. Ou mesmo deliberar sobre a “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, a “Crítica da Razão Pura” e a “Crítica Razão Prática” de Kant, mas temos que avançar. É nesse ponto que devemos observar, além do imperativo categórico kantiano, o conteúdo de seu livro “A Paz Perpétua”, base da teoria idealista das Relações Internacionais (RI).
Considerando que Kant argumenta que a ideia da paz perpétua nas RI constitui “ideal inatingível aproximável”, devemos buscar aproximação conceitual a partir da teoria realista das RI. Tomando por base Hans Morgenthau, veremos que: (i) a ação política do homem de Estado é amoral, portanto, não deve ser submetida a juízo de valor; (ii) a ação política do homem de Estado é baseada no “interesse definido como poder” (“poder” entendido como “ser capaz de”).
Assim, com base nos pressupostos morais e jurídicos de Kant, poderemos discutir se o cargo de embaixador não precisaria ser ocupado por um diplomata. Itamar Franco foi designado embaixador em Portugal e, posteriormente, na OEA, em Washington, por FHC, então presidente e ex-ministro de Itamar, que garantiu sua eleição com o Plano Real. Podemos, também, discutir se é permitida a nomeação de parentes em cargos públicos de natureza política (algo que já está pacificado pelo STF, mas não no que diz respeito a cargos no exterior).
Dessa forma, pode ser discutido o mérito quanto ao fato, baseado na lei. Tão somente é o que cabe, quanto ao fato em si. E é sempre oportuno para a República que seus cidadãos tenham total clareza sobre questões dessa natureza. Contudo, ainda que mesmo sob o descortínio da lei, subjetivamente, alguns ainda poderão discordar da decisão política do Presidente indicar um de seus filhos para embaixador do Brasil nos EUA, sob o argumento da “moral e dos bons costumes”.
No contexto da corrupção anteriormente vigente na cúpula do Executivo (para não dizer na cúpula da República), bem como da própria eleição fortemente alicerçada em preceitos da ética, é até justificável que alguns discordem. Justificável, mas não razoável! Com base no entendimento da política realista das RI, é inegável que a decisão do
Presidente constitui uma ação de Estadista, ao considerar: (i) a infiltração ideológica no corpo diplomático brasileiro dos últimos anos; (ii) os objetivos a serem alcançados no curto prazo no cenário internacional (entrada na OCDE); e (iii) as possibilidades advindas de uma parceria amigável muito próxima com o mandatário do país mais poderoso do mundo (entre outros “considerando” que não cabe aventar!).
Assim, indicar alguém de inteira e incontestável confiança para o cargo de representação política junto aos EUA configura uma decisão clara de “interesse definido como poder”. O que se poderia questionar, a partir daí, é se esse “interesse definido como poder”, que constitui o “interesse de governo”, se alinha ao “Interesse Nacional”.
Quanto a isso, ainda que possa haver opiniões contrárias, considerando que pai e filho foram eleitos representantes para importantes cargos políticos, bastaria reconhecer e respeitar a vontade da maioria republicana, quer majoritária (Presidente), quer proporcional (deputado federal mais votado), manifesta no pleito eleitoral: pai e filho gozam de legitimidade consentida pela maioria dos cidadãos para assumir cargo de representação. “Ain! Mas eu votei no Eduardo para deputado, não para embaixador!” Sim! Votaram proporcionalmente em Eduardo Bolsonaro para deputado federal.
Demonstraram que o mesmo é digno de confiança para ocupar cargo de representação política. Muito bem!!! Obrigado pela cooperação!!! Isso não o desqualifica para o cargo de embaixador, muito menos elimina a possibilidade do mandatário Executivo, eleito pelo voto majoritário, escolhê-lo para também representa-lo em cargo de importância estratégica para o próprio País.
Até pelo contrário: reforça a qualidade da escolha. Sob o aspecto da moralidade subjetiva, é certo que o senso comum ainda assim haverá de julgar e a oposição atacar a decisão. Quem assim procede, não deixa dúvida: não olha para o País pela antevisão (Prometeu) do Estadista; olha para seu umbigo, na visão limitada do idiota.
Seria o martírio de Prometeu às avessas: sentir prazer intestino ao ter o fígado devorado por uma águia, no caso do idiota útil (isentões e “arrependidos críticos”) ou corvo (no caso dos idiotas inúteis opositores), sem ao menos ter ousado roubar o fogo dos deuses (no caso da PTralhada e seus asseclas, colaboradores e simpatizantes, ter roubado e apagado).
Isso porque, qualquer cidadão, minimamente praticante da política de Estado, arguir que a indicação é “imoral”, além de expressar juízo de valor de cueca (a ação política nas RI não se submete a juízo de valor), evidencia suficiente comprometimento da razão, garantindo sua qualificação como idiota, e não como político.
A questão de constituir idiota útil ou inútil dependerá de parecer da Comissão Avaliadora do Lugar de Fala, considerando a ideologia e o interesse manifesto!
Fernando Amaro