Em 2024, diversos eventos climáticos extremos atingiram a América Latina e o Caribe, abalando cadeias de abastecimento alimentar, segundo um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial, OMM.
Os desastres incluíram incêndios florestais causados por seca e calor extremo, inundações provocadas por chuvas excepcionais e o primeiro furacão de categoria 5 já registrado na região, o Beryl, que arrasou várias ilhas do Caribe.
Chuvas no Rio Grande do Sul afetaram abastecimento de alimentos
No Brasil, foram reportados 10 eventos climáticos extremos sendo três deles classificados como sem precedentes: As chuvas no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia e a onda de calor na região central do país em agosto.
Segundo a OMM, as enchentes provocadas por chuvas intensas no Rio Grande do Sul se tornaram o pior desastre climático do Brasil, com perdas econômicas para o setor agrícola de aproximadamente R$ 8,5 bilhões.
Embora alertas e evacuações oportunos tenham ajudado a mitigar os impactos das chuvas, mais de 180 pessoas morreram, evidenciando a necessidade de melhorar a compreensão dos riscos de desastres entre as autoridades e o público.
O levantamento da OMM afirma que as enchentes sem precedentes afetaram mais de 90% do estado. A soja foi a cultura mais abalada, pois ocupa entre 15% e 16% da área agrícola. Na agropecuária, os prejuízos somaram R$ 1,2 bilhão, com 600 mil hectares de pastagens seriamente danificados.
As inundações também afetaram severamente o setor pesqueiro no Rio Grande do Sul, elevando os níveis dos rios e lagoas. A Lagoa dos Patos, responsável pelo fornecimento de 30% do camarão rosa do Brasil, foi duramente atingida e o abastecimento do produto foi interrompido em mercados de todo o país.
Incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal
A bacia amazônica enfrentou uma das mais severas secas da história. Até o final de setembro 2024, 745 mil pessoas foram afetadas.
Desde abril, as chuvas ficaram de 30% a 40% abaixo da média no centro-norte do país. Como resultado, em julho o estado do Amazonas bateu recorde de focos de incêndio e viu uma redução drástica nos níveis dos rios. Em Manaus, o rio Negro atingiu um recorde de baixa.
Já o Pantanal, no centro do país, vive a pior seca dos últimos 70 anos, segundo o governo do Mato Grosso do Sul. As condições climáticas secas, a baixa umidade e as altas temperaturas da região também favorecem os incêndios florestais.
Entre o final de agosto e a primeira semana de setembro, partes do centro-oeste do Brasil foram afetadas por ondas de calor e experimentaram temperaturas 7 °C acima do normal.
Em agosto, as temperaturas ultrapassaram 41°C em várias partes do país. A maior alta foi registrada em Cuiabá, com 42,2°C, quebrando recordes anteriores.
Extinção de geleiras
As geleiras também foram abaladas pelo aumento das temperaturas na América Latina. A última geleira da Venezuela, a Humboldt, desapareceu em 2024. Isso torna o país o segundo do mundo, ao lado da Eslovênia, a perder todas as suas geleiras.
Além disso, as geleiras Conejeras, na Colômbia, e Martial Sul, na Argentina, foram declaradas extintas em 2024.
Segundo a OMM, a análise de 5,5 mil geleiras nos Andes mostra que as montanhas perderam 25% de sua cobertura de gelo desde o final do século 19. A agência ressalta que as chamadas geleiras tropicais estão derretendo 10 vezes mais rápido do que a média global.
Na América do Sul, as geleiras são fontes de água cruciais para milhões de pessoas, portanto, seu recuo acelerado é motivo de máxima preocupação.
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