A Câmara dos Deputados desidratou as medidas de ajuste fiscal que foram enviadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A Casa Legislativa concluiu nesta quinta-feira (19/12) a votação das três propostas do pacote de revisão de gastos públicas. As matérias agora vão ao Senado Federal.
A equipe econômica do governo esperava economizar R$ 70 bilhões com as medidas em dois anos, mas o montante deve ser menor devido às alterações realizadas nas propostas. Ao todo, foram três propostas analisadas: um projeto de lei (PL), um projeto de lei complementar (PLP) e uma proposta de emenda à Constituição (PEC).
Leia abaixo trechos que foram alterados e devem dar uma economia menor ao governo:
Emendas parlamentares
Uma das primeiras modificações foi feita ainda na votação do projeto de lei complementar (PLP), o primeiro a ser votado pelos deputados. A proposta original do governo previa a possibilidade de bloqueio e contingenciamento de todas as emendas, limitando-se a 15%. Mas o relator mudou o projeto, e o projeto só dá a permissão de bloqueio para as emendas não impositivas.
Na prática, as emendas impositivas, que são as individuais e de bancada, e representam a maior fatia dos recursos, ficam impossibilitadas de serem atingidas em busca do equilíbrio fiscal.
Supersalários
Na proposta de emenda à Constituição (PEC) enviada pelo governo e que faz parte do pacote fiscal, havia a previsão de que o Congresso tratasse em uma lei complementar sobre o teto do funcionalismo público. No texto do Executivo, ficaria a critério dessa lei complementar quais seriam as verbas indenizatórias que não seriam computadas dentro do teto do funcionalismo.
Atualmente, o teto salarial da União é de R$ 44 mil e as verbas indenizatórias ficam fora do teto, permitindo que alguns ganhem mais do que está estabelecido na Constituição.
A Câmara mudou a proposta e estabeleceu que o fim da regalia virá por meio de um projeto de lei ordinária A proposta deve ser discutida em 2025. No Senado Federal, há o PL nº 2.721/21, que delibera verbas indenizatórias para evitar os supersalários.
Ficou definido no projeto também que as verbas indenizatórias seguirão sem ser registradas até que a lei ordinária seja aprovada pelo Congresso. Na prática, os supersalários vão seguir autorizados até que o projeto que está no Senado seja aprovado e sancionado pelo presidente da República.
Fundeb
A PEC da equipe econômica de Lula permitia que até 20% dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) fossem destinados para criação e manutenção de matrículas em escolas de tempo integral.
Os deputados alteraram o trecho, flexibilizando a medida. O percentual foi reduzido de 20% dos recursos do Fundeb para 10% e adicionou uma cláusula em que os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão destinar ao menos 4% dos recursos do fundo a partir de 2026 para ampliação das matrículas da educação integral.
Moses previu ainda na redação aprovada que os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde serão financiados com recursos oriundos de contribuições sociais e outras dotações orçamentárias. Atualmente, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é responsável pelo repasse de recursos para a suplementação dos programas Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e Saúde nas Escolas.
Benefício de Prestação Continuada (BPC)
No projeto de lei (PL) encaminhado pelo Palácio do Planalto, havia novas regras ao BPC, pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda. Entre as diretrizes apresentadas pelo governo estão somar os rendimentos brutos mensais dos membros da família sem deduções legais e redefinir o conceito de família, permitindo incluir membros não coabitantes em situações específicas.
O texto, no entanto, foi alterado pelos deputados, que mantiveram a exigência do registro do código da Classificação Internacional de Doenças (CID), mas estabeleceram que esse registro só será obrigatório enquanto não for implementada a avaliação biopsicossocial.
A adesão de membros sem coabitação para o cálculo da renda familiar dos beneficiários do BPC foi retirada pela Câmara. Dessa forma, para que a renda de familiares seja incluída no cálculo, essas pessoas devem viver sob o mesmo teto que o beneficiado.
Outra mudança feita já nesta quinta-feira (19/12) foi a obrigatoriedade do cadastro por biometria para ter direito ao benefício. A medida, no entanto, abre exceção para pessoas que moram em “localidade de difícil acesso” ou tenham “dificuldade” de deslocamento, como idosos e indivíduos com condições físicas limitantes.
Fundo Constitucional do DF
O projeto de lei do pacote também incluía uma mudança no Fundo Constitucional do Distrito Federal, que passaria a ser corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e não mais pela variação da receita.
O relator da proposta, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), retirou esse trecho do projeto. Com isso, o fundo do DF fica mantido como é atualmente.