Os brasileiros viram o dólar disparar em 2024. Na quinta-feira (19/12), a cotação fechou em R$ 6,12. Embora a quase totalidade dos brasileiros não receba em dólar, os preços dos produtos são influenciados pela variação cambial, que tem impacto no dia a dia, desde o pãozinho no café da manhã até o que vai no prato do jantar.
A moeda iniciou o ano cotada a R$ 4,85 e chegou à casa dos R$ 5,80 em meados de novembro. No entanto, após o anúncio do pacote fiscal do governo federal, que veio junto com a proposta de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a cotação da moeda estrangeira acelerou e começou a bater recordes.
Em um ano, o real perdeu 20,88% do valor que tinha em relação ao dólar. Outras quatro moedas fecham o ranking das mais depreciadas no período: peso mexicano (-16,0), lira turca (-17,27), rublo russo (-12,56) e won sul-coreano (-9,97). Os dados são da XE.com.
O dólar alto, explicam os economistas, favorecem as exportações. Isto acontece porque os produtos locais ficam mais baratos no exterior. Isso pode refletir no mercado interno, com a diminuição da oferta e, consequentemente, aumento dos preços.
Outra pressão sobre os preços de alguns produtos que os brasileiros consomem vem do valor mais elevado das importações, em função do dólar alto. Os produtos agrícolas costumam ter os custos de produção elevados. Dependente de fertilizantes importados, o agronegócio poderá sentir no bolso isto, algo que será repassado para o consumidor final.
“Vamos dizer que o dólar valorizou 20% no ano. Aí você faz um cálculo que a inflação está em 5%, e você tem uma valorização do dólar de 20%. Então, a cesta de produtos que depende do dólar será pressionada e subirá bastante”, explicou ao Metrópoles o economista professor de mercado financeiro da Universidade Nacional de Brasília (UnB), Cesar Bergo.
Produtos como carne e café, por exemplo, são muito sensíveis à alta do dólar, em função do mercado externo mais atrativo em tempos de real valendo menos. Bergo dá esperança de algum alívio em 2025 por causa da perspectiva de uma safra superior à de 2023/2024, mais afetada pelos fenômenos climáticos.
“Está prevista uma boa safra para o ano que vem, diferentemente de agora. Então, isso tende a se equilibrar no médio e longo prazo”, acrescenta Bergo.
Eletrônicos nas alturas
Os produtos eletrônicos são uma preocupação importante, pois dependem de componentes que o Brasil não produz, ou seja, vai importar com o dólar em alta.
“As empresas não vão ter prejuízo para vender carro. Então, o preço do carro deve subir, porque, sobretudo, a parte tecnológica vem tudo de fora. O Brasil não produz componentes eletrônicos, celular, televisão, tudo aí deve subir de preço também, no médio e longo prazo”, avisa o economista da UnB.
Economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni explica que a variação do dólar é um problema, mas o mais grave é quando a moeda se acomoda em um patamar muito elevado ou mantém a oscilação por muito tempo.
“Então, precisa levar essa questão em consideração. Esse ponto (a variação) começa a estabelecer um novo preço dos itens importados”, detalha Beni.
O Brasil deve fechar o ano com inflação acima do teto da meta (4,5%). As chances, avisou o Banco Central (BC), são de 100%. A perspectiva atual é que o índice se consolide em 5%.