Se seu filho usasse o celular do jeito que você usa, você acha que estaria tudo bem? Que tipo de pai ou mãe o seu filho vê quando você está no celular? Você se comporta bem nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp da família e do condomínio?
De acordo com a especialista em direito e segurança digital Alessandra Borelli, que fez parte do grupo de trabalho responsável pela elaboração do “Crianças, Adolescentes e Telas: Guia sobre Uso de Dispositivos Digitais”, essas perguntas são usadas em um exercício chamado espelho invertido, que consiste em realizar perguntas a pais e responsáveis com o objetivo de mostrá-los que as crianças aprendem com o exemplo.
O guia, que foi lançado no dia 11 de março, é uma iniciativa do governo federal para conscientizar e orientar pais e responsáveis a construir um ambiente digital mais seguro para os filhos.
Principais dicas
- Seja modelo de comportamento responsável no uso de tecnologias, equilibrando a vida on-line e off-line. O uso excessivo de telas por adultos contribui para o uso precoce e excessivo por crianças e adolescentes.
- Estabeleça regras claras sobre o tempo e o propósito do uso de telas. É importante que essas regras sejam consistentes e, idealmente, construídas com a participação das crianças e adolescentes.
- Mantenha uma comunicação aberta sobre o uso responsável da tecnologia, discutindo benefícios e riscos, e encorajando crianças e adolescentes a compartilhar suas experiências.
- Medie ativamente o uso de telas. Isso envolve acompanhar e orientar as atividades on-line, estar presente durante o uso, e conversar sobre o conteúdo consumido.
- Evite usar o acesso a dispositivos tecnológicos como recompensa ou punição.
- Priorizem atividades off-line de qualidade em família. Desligar notificações durante momentos de interação pode ser útil.
Alessandra, que também é CEO de uma escola de direito digital, conta que crianças e adolescentes foram ouvidos durante a produção do material. De acordo com ela, a inconsistência de regras que são impostas pelos pais, mas que não são seguidas por eles, está entre as principais queixas dos pequenos em relação às restrições no uso dos celulares.
“Esse guia enfatiza a forma como os adultos utilizam a tecnologia e o quanto eles representam um modelo na vida dos jovens. Inclusive, esse material contou com a participação de muitas crianças e adolescentes que sinalizaram esse incômodo, no sentido de que as crianças entendem que a relação delas com as telas precisa ser revista, mas que nem sempre elas têm esse exemplo em casa”, revela a advogada.
Para Alessandra, além de iniciativas de educação midiática para as crianças, também é muito importante colocar os pais na posição de aprendizes do uso seguro de telas, já que os adultos não tiveram a oportunidade de aprender de forma gradativa sobre a tecnologia.
“Nenhum pai quer um filho dependente digital, deprimido ou sofrendo com os prejuízos do mau uso. Quando você fala para o seu filho que está tudo bem ele passar horas no celular ou acessar o que ele quiser, achando que está sendo bacana ou liberal, você pode, na verdade, passar para o seu filho a impressão de que você não se importa com ele”, afirma a especialista. “Não falta amor, falta informação, orientação, direcionamento. Esse guia vem justamente para isso”, finaliza Alessandra.
Para ter acesso ao guia completo clique aqui.
Escolas sem celulares
Em janeiro, o Projeto de Lei nº 4.932/2024, que restringe o uso de celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e privadas por todo o país, foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A proposta foi aprovada pelo Congresso Nacional e restringe o uso não pedagógico de celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis por estudantes, inclusive no recreio e intervalo entre as aulas.
A medida vale para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. O texto prevê exceções, permitindo o uso em atividades pedagógicas autorizadas pela escola; em situações de “estado de perigo, de necessidade ou caso de força maior”; e para garantir acessibilidade, inclusão e atender às condições de saúde dos estudantes.
Confira as três situações em que aparelhos eletrônicos portáteis serão permitidos:
- Quando houver autorização expressa do professor para “fins estritamente didáticos”;
- No caso de estudantes com deficiência ou com condições de saúde que necessitem do aparelho para monitoramento das respectivas necessidades ou auxílio a elas;
- Para uso do dispositivo quando houver autorização expressa da equipe gestora da unidade por motivos de força maior e situações de estados de perigo ou necessidade.