O desemprego e o medo da violência trouxeram Yolanda Jeancilien ao Brasil. Em maio do ano passado, a haitiana saiu de seu país natal e desembarcou na capital federal em busca de uma vida melhor. Não falava uma palavra do idioma local. Não conhecia as leis e os costumes brasileiros. Até que, por indicação de outros imigrantes estrangeiros, conheceu o curso de português do Centro Interescolar de Línguas (CIL) do Guará.
“Professora é boa”, garante a moça de 32 anos, com a dificuldade de quem começou a aprender um novo idioma há pouco menos de um mês. “Não trabalho, estou procurando. Vai ajudar”, completa. Yolanda é um dos 140 estrangeiros que, atualmente, estudam gratuitamente no CIL do Guará. São alunos de mais de 20 nacionalidades diferentes que encontram no curso muito mais do que a chance de aprenderem a língua portuguesa.
As aulas na instituição pública têm como foco o ensino do português como ferramenta de acolhimento para quem escolheu o Brasil como lar. “Mais do que ensinar um novo idioma, nós investimos na integração desses alunos no país”, explica a diretora do CIL do Guará, Taiana Santana. “Explicamos sobre os direitos deles, ensinamos a tirar os documentos, falamos sobre o Sistema Único de Saúde [SUS] e sobre a rede pública de ensino”.
O curso é apoiado em um tripé que envolve língua, cultura e cidadania, sempre respeitando as crenças e os hábitos de cada estudante. As aulas têm 1h40 de duração e são realizadas três vezes por semana, em formato híbrido: duas online e uma presencial. “Temos muitos alunos mulçumanos, algumas moças só podem ficar em uma sala na companhia de outras mulheres… Levamos tudo isso em consideração”, observa Taiana.
A primeira turma do curso de português do CIL formou-se no final de 2022, depois de três anos de estudo. O nigeriano Chidera Ifeanyi, morador de Brasília há dez anos, foi o orgulhoso orador da classe. “Eu era muito tímido, tinha vergonha porque não falava português direito, errava bastante”, confessa o empresário de 35 anos. “O curso me ajudou muito. Hoje tenho mais confiança, sei que me comunico bem”.
Matrícula
As inscrições para o curso de português são abertas semestralmente com a oferta de 35 novas vagas, em média. Se a procura for maior, os interessados vão para uma lista de espera. “Muitos acabam sendo chamados, porque fazemos um teste de nivelamento para adiantar quem já tem alguma familiaridade com a língua”, comenta a professora de português da instituição, Fabíola Ribeiro.
Por enquanto, o CIL do Guará é o único a oferecer aulas de português. Mas a Secretaria de Educação (SEE) está analisando junto à Diretoria de Direitos Humanos da própria pasta uma forma de ampliação e regularização do projeto, para que uma camada maior de imigrantes estrangeiros possa ter acesso ao curso.
O Distrito Federal conta com 17 centros interescolares de línguas, responsáveis por atender um total de 49.737 alunos. Todos eles oferecem três idiomas básicos: inglês, espanhol e francês. Além disso, algumas escolas têm curso de japonês. O endereço de cada unidade, bem como os idiomas trabalhados nela, estão no site da Secretaria de Educação.
Qualquer estudante a partir do 6º ano do ensino fundamental, incluindo o ensino médio e o segundo e terceiro segmentos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), pode se inscrever no CIL. Para os alunos da rede pública, o processo é feito pelo site da SEE. Os contemplados, no entanto, devem comparecer à unidade escolhida para efetivar a matrícula. As vagas remanescentes são abertas à comunidade.
Com informações da Agência Brasília
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