Para um leitor apaixonado, não há orgulho maior do que aumentar sua coleção de livros. Divididos por cores, autores, editoras e até preços, as estantes lotadas de obras são a “luz dos olhos” de qualquer apaixonado por conhecer novas histórias. E entre tantos sonhos destruídos pelas enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, os colecionadores de tramas também encararam a perda de uma vida inteira construindo a estante que aspiravam.
Em uma época onde comprar livros tornou-se privilégio para quem pode, já que preço médio das obras subiu 12,8% e atingiu R$ 54,49 no segundo período de 2024, de acordo com o Painel do Varejo de Livros do Brasil, Yasmin de Oliveira Trindade, de 22 anos, foi uma das tantas pessoas que viu sua estante de livros — que contava com cerca de 300 exemplares — ser levada embora pela água.
“A minha casa ficou embaixo d’água por uns 25 dias, a água tampou o telhado, então eu já tinha noção que eles [os livros] estariam destruídos. Mas nada nos prepara para ver algo que cuidei com tanto amor. Eu achei que daria para pelo menos anotar o nome dos livros para futuramente recuperar, mas estava mais destruído do que imaginei”, lamentou a jovem, moradora de São Leopoldo, município no Rio Grande do Sul.
Eu vi toda minha coleção destruída, meu primeiro livro eu ganhei aos 11 anos, então não consigo descrever o sentimento daquele momento.
Yasmin
São Leopoldo, a cidade de Yasmin, se une aos 431 municípios gaúchos atingidos pelo temporal que assolou o estado. Segundo a prefeitura municipal, aproximadamente 180 mil habitantes da cidade foram afetados direta ou indiretamente pelas cheias.
Movimento nas redes sociais
Não é mais segredo que o Brasil parou para ajudar o Rio Grande do Sul. O país se movimentou em uma onda de doações de roupas, alimentos, água em prol dos moradores, dos animais e de qualquer pessoa afetada pelas cheias. E foi na internet, principalmente no X, o antigo Twitter, que Yasmin conseguiu encontrar certo acalento para sua dor.
A jovem compartilhou na rede social fotos de seus livros destruídos pela água. A publicação já conta com mais de 38 mil curtidas e 2 mil compartilhamentos. Yasmin não esperava, no entanto, que a publicação se tornasse viral e movimenta-se influencers do universo literário.
Tudo começou quando o booktoker Rodrigo Roque respondeu à publicação de Yasmin sobre os livros, e afirmou que ajudaria a jovem e outros leitores atingidos pelas enchentes.
“O Digão, que eu já acompanhava através do TikTok, repostou meu tweet sobre os livros e depois disso recebi muitas mensagens, vi que ele vai enviar livros e estante para seis leitores gaúchos, fiquei muito feliz”, comemorou Yasmin.
Em seu Instagram, Rodrigo mostrou ter feito uma feira de troca de livros. Ele cedeu todos os seus livros em troca de doações de água e alimentos para os moradores do Rio Grande do Sul, além de doar estantes novas e cheias de obras para os leitores.
Eu sei que muitas pessoas perderam suas coisas, sei que meus livros, apesar do valor sentimental que tem pra mim, não é nada se comparado com as vidas de pessoas e pets que morreram. Mas fico grata por ter a chance de recomeçar uma coleção que tinha muito amor.
Yasmin
Vakinha on-line
Yasmin, inclusive, abriu uma vakinha on-line para conseguir doações e remontar sua vida. A jovem, no entanto, deixa claro que o dinheiro não será usado para comprar novos livros, já que sua casa foi destruída pela enchente.
“Apesar do meu amor e carinho pelos meus livros, eu não consigo nesse momento pensar em gastar com livros. Infelizmente não deu para aproveitar nada da minha casa, os móveis caíram e o prejuízo foi, além de sentimental, um valor financeiro muito grande também”, lamentou.
“Muitas pessoas contribuíram com a vakinha e agora sinto esperança para recomeçar. Sou mais grata do que consigo agradecer com palavras. Eu nunca imaginei receber tantas mensagens de carinho, é sem explicação o sentimento de gratidão”, finalizou a jovem.
Para acessar a vakinha de Yasmin, clique aqui.