O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem evitado promover uma reforma ministerial imediata, enquanto o governo federal enfrenta um novo escândalo. Desta vez, o alvo tem sido o ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), em decorrência de uma operação contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por desvios fraudulentos. O caso foi revelado pelo Metrópoles.
No Palácio do Planalto o posicionamento adotado é de que o foco tem sido nas investigações ligadas ao INSS, enquanto o ministro deverá prestar esclarecimentos sempre que necessário sobre o caso.
Antes de pensar em afastar Lupi do cargo, Lula deverá levar em consideração o apoio da bancada do PDT no Congresso Nacional, onde a sigla dispõe de 17 deputados federais e três senadores.
O momento é sensível, visto que o petista está de olho na reeleição em 2026 e precisa de apoio no Legislativo para aprovação de propostas que garantam uma melhora na avaliação do governo Lula junto ao eleitorado.
Reforma arrastada
- A chamada reforma ministerial é prometida desde o ano passado. Aliados do petista defendem um rearranjo na Esplanada com o objetivo de garantir a governabilidade do petista.
- No entanto, até o momento, o presidente fez poucas mudanças. As trocas no comando de ministérios e secretarias envolveram quadros do próprio Partido dos Trabalhadores (PT).
- Nesse sentido, Lula substituiu Paulo Pimenta (PT-RS) por Sidônio Palmeira, na Secretaria de Comunicação Social; Nísia Trindade por Alexandre Padilha (PT-SP), no Ministério da Saúde; e Padilha por Gleisi Hoffmann (PT-PR), na Secretaria de Relações Institucionais.
- O Ministério das Comunicações também passou por uma alteração no comando, mas não por uma opção política de Lula. O então ministro, Juscelino Filho (União-MA), pediu demissão depois de ser denunciado por corrupção.
- Um outro ponto pressiona a reforma ministerial. Caso o presidente opte por indicar um nome político para um de seus ministérios, o titular terá que deixar o cargo em menos de um ano, se quiser concorrer às eleições do ano que vem. A regra, portanto, limita as opções.
Lupi na Esplanada dos Ministérios
O ministro Carlos Lupi disse, durante reunião do Conselho Nacional de Previdência Social, que o Ministério da Previdência Social “sempre atuou firme” contra irregularidades nos descontos na folha de pagamento de aposentados e pensionistas do INSS.
“O Ministério sempre atuou firme nisso. Quem teria que ter alguma conivência seria eu, no caso, mesmo não sendo dirigente da instituição. Não tem absolutamente nenhuma acusação contra mim”, declarou Lupi.
Diante do cenário posto, Alessandro Stefanutto foi demitido da presidência do INSS e Gilberto Waller Júnior foi escolhido como substituto pelo próprio chefe do Palácio do Planalto.
Até o momento, o Planalto sinaliza que Lupi deve permanecer no cargo. Porém, nesta quinta, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT), disse que a demissão de Lupi vai depender da reação dele à crise sobre o tema.
Pesquisa Atlas/Intel divulgada ainda na quinta indica que 85,3% dos brasileiros defende que Lula demita Lupi. Enquanto isso, cresce pressão no Congresso para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o caso. Se a ideia não prosperar na Câmara, senadores da oposição já buscam assinaturas para criação de uma comissão mista (CPMI).
Apoio no Congresso
As cobranças por mudanças no primeiro escalão do governo Lula não são de hoje. Partidos da base governistas, incluindo o PDT e o PSD, têm cobrado mais espaço na Esplanada dos Ministérios em troca de apoio a propostas em tramitação no Legislativo.
Em contrapartida, parlamentares que compõem a base do governo têm defendido o desembarque da gestão petista, de olho nas eleições presidenciais de 2026. O União Brasil, por exemplo, já tem uma pré-candidatura para o Palácio do Planalto no próximo pleito, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que não possui consenso dentro da própria sigla.
Vale lembrar que o União Brasil e o Partido Progressistas (PP) oficializaram a federação entre os dois partidos, com a adoção da nova sigla UP, chamada União Progressista.
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), é um dos principais críticos de Lula dentro do Congresso Nacional, apesar de ter indicações do partido dentro da gestão petista.
Na Câmara dos Deputados, por exemplo, o União possui 60 deputados. Já no Senado são sete representantes, sendo um deles o presidente da Casa Legislativa, Davi Alcolumbre (AP), que tem se aproximado de Lula.
Na esfera do União Brasil, outro escândalo manchou a imagem do governo. O ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de organização criminosa, fraude em licitação e corrupção. Depois da denúncia, Juscelino deixou o governo Lula.
Desafio para reeleição
A última pesquisa LatAm Pulse, pesquisa realizada pela AtlasIntel para a Bloomberg News, mostra que a aprovação do presidente Lula foi de 44,9% em março para 46,1% em abril. Em busca de mudar este cenário, o chefe do Executivo tem buscado medidas para angariar votos da classe média.
Uma das principais bandeiras adotadas por Lula é o projeto de lei (PL) que amplia a isenção do imposto de renda para os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil. Em pronunciamento nesta semana, o presidente também pontuou a importância da mudança na jornada de trabalho.
“Nós vamos aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso. A chamada jornada 6 por 1. Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, disse o presidente.
Para aprovação de ambas as medidas, Lula precisa de apoio dentro do Congresso Nacional, que também irá trabalhar visando as eleições de 2026, onde os deputados e senadores devem buscar a reeleição ou tentar novos cargos.