Interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desejam um longo julgamento para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta quarta-feira (26/3), a Corte tornou o ex-mandatário e outros sete aliados réus por uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Na avaliação do Planalto, quando mais o processo demorar, menos Bolsonaro terá o controle sobre a pauta do debate político num ano pré-eleitoral. Petistas próximos a Lula acreditam que a análise da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) já surtiu efeito em colocar o ex-presidente contra a parede, numa perspectiva de comunicação.
A conta dos aliados ao presidente Lula é que, com o processo instaurado, as fases da ação penal darão ao governo uma sequência de oportunidades para desgastar Bolsonaro. É nesta fase processual em que são colhidos depoimentos de testemunhas e dos acusados, além da apresentação de provas.
A expectativa é que o processo de Bolsonaro seja encerrado somente no final do ano. Além do presidente, o STF aceitou denúncia da PGR contra sete aliados, incluindo ex-ministros e militares. Outras 25 pessoas também foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF) pela suposta tentativa de golpe, mas ainda terão seus casos analisados.
Como mostrou o Metrópoles, o PT preparou um aparato para fazer uma espécie de cobertura especial do julgamento de Bolsonaro no STF, com transmissão ao vivo e cortes rápidos para as redes sociais. A ideia no partido é utilizar o mesmo modelo nos próximos fatos do processo.
Na terça-feira (25/3), no primeiro dia do julgamento, Bolsonaro conseguiu gerar um fato político e midiático ao assistir presencialmente ao julgamento. Enquanto os petistas o desgastavam nas redes, porém, parlamentares bolsonaristas ficaram conhecidos ao fazerem confusão, com direito a xingamentos na porta do STF.
Nesta quarta, ele ficou no gabinete do filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), de onde acompanhou a transmissão. Ao tentar demonstrar força na saída do Senado, o ex-presidente interrompeu pronunciamento à imprensa quando uma pessoa tocou em trompete a marcha fúnebre, gerando um fato negativo com potencial viral.
Bolsonaro réu
Após a sessão dividida em dois dias, a Primeira Turma do STF tornou réus, nesta quarta-feira (26/3), por unanimidade, Bolsonaro e sete aliados do ex-presidente. Os ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin seguiram o relator do processo, Alexandre de Moraes, para aceitar na íntegra a denúncia da PGR.
Além de Bolsonaro, tornaram-se réus:
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
- Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
- General Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
Ao grupo, foram imputados cinco crimes: organização criminosa armada; tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima; e deterioração de patrimônio tombado.