Aclamado no cenário nacional e internacional de festivais de cinema, Baby, novo filme de Marcelo Caetano, chegou aos cinemas em 9 de janeiro e provoca uma série de reflexões sobre o cenário LGBTQIA+ nas ruas de São Paulo sobre a ótica de um jovem de 18 anos que acabou de deixar um centro de detenção juvenil.
O longa aborda a vida de Wellington (João Pedro Mariano), que posteriormente passa a ser conhecido como Baby, e que se vê sem rumo após deixar o centro de detenção. Em um cinema pornô, o jovem conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um homem mais velho com quem passa a viver uma relação repleta de conflitos e cumplicidade. Em pouco tempo, Baby passa a conviver com a família de Ronaldo além de manter contato com amigos da cena LGBTQIA+ da cidade.
Para além das temáticas envolvendo o cinema pornô, a prostituição e o consumo e tráfico de drogas, o diretor Marcelo Caetano destaca que o filme tem como uma das mensagem falar sobre família e que tipos de famílias existem ao retratar o Brasil.
“Eu acho que na verdade o que eu queria passar no filme são outras formas de família que fazem de uma certa forma esse país funcionar como famílias homoafetivas, famílias de amigos, a própria família da cena ballroom então de uma certa forma desmistificar um pouco o conceito de família e trazer ele mais pra perto do que acontece na realidade das ruas brasileiras do centro de São Paulo e da comunidade LGBT”, explicou o diretor em entrevista ao Metrópoles.
João Pedro Mariano, que vive Baby no longa, compartilha da mesma ideia sobre a família, apesar de ver também esse lado da sobrevivência e resiliência do personagem. “Para mim é muito um lugar de batalha tanto para o Baby e aí entra em um lugar de uma batalha da nossa comunidade LGBTQIAPN+ em que a gente está sempre batalhando para poder sobreviver e também nessas questões de família”, pontuou.
Segundo João, ele se vê neste mesmo lugar pelas próprias vivências ao se mudar para São Paulo. “Eu, João Pedro, sem a minha família escolhida aqui em São Paulo, não teria sobrevivido aqui tanto tempo. Eu acho bonito assim que é uma batalha que todo mundo tem em algum momento e quem não tem aqui em São Paulo, você é meio que engolido pela cidade, porque essa cidade te oferece muitas coisas e quando você tem essas bases bem estabilizadas aqui você consegue viver em vários lugares em vários momentos da vida aqui em São Paulo”, refletiu.
O filme venceu o troféu Redentor de Melhor Filme do Festival do Rio de Janeiro e foi aclamado em vários festivais pelo mundo e recebeu o prêmio de Ator Revelação no Festival de Cinema de Cannes pela atuação de Ricardo Teodoro como Ronaldo.
Para Marcelo, as vitórias do filme em festivais reconhecem o esforço da produção independente no Brasil.
“Quando Baby ganha um prêmio é quase um prêmio de sobrevivemos a um momento muito ruim de descaso e desprezo pelo cinema brasileiro e assim eu acho muito importante quando a gente também recebe o prêmio é que é um prêmio também para o cinema com queer brasileiro, um cinema extremamente representativo em todos os festivais internacionais e no mercado internacional, é um cinema que também precisa ser descoberto pela comunidade queer brasileira que muitas vezes não tem acesso ou não vê esses filmes que são produzidos aqui”, pontua.
O elenco do longa é formado por João Pedro Mariano, Ricardo Teodoro, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo, Marcelo Varzea, Mauricio de Barros e Kyra Reis.