O aumento nos preços de alimentos nos supermercados tem levado os brasileiros a fazer compras com calculadora em mãos. Levando menos produtos em virtude do preço elevado, os consumidores encontram nas prateleiras outro problema: produtos que estão diminiundo de tamanho e sendo vendidos com preço igual ou maior que a versão “completa”. Isso se deve ao fenômeno da reduflação, que nos últimos anos vem sendo um dos fatores que diminiu o poder de compra do brasileiro.
O que é reduflação?
- Para entender o que é reduflação, é preciso destrinchar a palavra. O “redu” é de reduzido, e o “flação” de inflação.
- Reduflação é o fenômeno em que produtos diminuem de tamanho ou quantidade, mas seu preço se mantém inalterado ou apresenta um leve aumento.
O PhD em economia VanDyck Silveira esclarece que a reduflação é uma maneira disfarçada de aumentar o preço do produto sem que o consumidor perceba. “Com a reduflação você tem um produto que anteriormente, por exemplo, pesava 200g e agora passa a ter 180g. É uma perda que representa um aumento inflacionário. As pessoas notam (a alta dos valores) quanto aumentam a frequência de compra deste mesmo produto”, destaca o especialista.
Para o economista, a reduflação tem impacto direto no bolso do brasileiro. Com o produto menor, o consumo será mais rápido, fazendo com que o consumidor volte mais vezes ao mercado para repor. Silveira demonstra preocupação com o fenômeno, pois, em muitos casos, essa diminuição na quantidade dos produtos não é comunicada aos consumidores.
De acordo com o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), as empresas têm o direito de mudar a quantidade ou os ingredientes de um produto. Contudo, a legislação brasileira esclarece que o aviso da mudança seja explícito, sem a possibilidade de gerar qualquer tipo de dúvida ao consumidor. O aviso da alteração tem que ocorrer por, pelo menos, seis meses de antecedência.
“Isso é muito importante. Como tudo na vida e no mercado, é essencial olhar, analisar, pesquisar e comprar aquilo que mais lhe agrada, pelo preço que considera mais justo. Essa é a maneira de se manter atento e não ser facilmente vítima da reduflação”, analisa Silveira.
De atacatão até a feira
O economista Francisco Rodrigues destaca que o fenômeno da reduflação reflete não apenas nos grandes supermercados, mas também nos mercados de bairro, atacarejos e até mesmo nas feiras livres. Ele explica que, na prática, o consumidor acaba comprando menos, seja em quantidade ou em qualidade, pagando preços mais altos por produtos que antes eram mais acessíveis. “O consumidor, ao tentar manter o mesmo padrão de consumo, acaba precisando incluir mais itens no carrinho de compras, o que gera um impacto imediato na sua inflação pessoal e familiar”, afirma Rodrigues.
Segundo o economista, a reduflação é um fenômeno que ganhou força após a pandemia, quando as empresas enfrentaram aumentos nos custos de produção, impostos e insumos. Para se adaptar, muitas optaram por reduzir o tamanho ou a quantidade dos produtos, mantendo ou até aumentando os preços. “Essa prática não é nova, mas ficou mais evidente nos últimos anos. As indústrias tomaram essas decisões seguindo parâmetros autorizados pelo governo, mas o consumidor, que não tem poder de decisão sobre a produção, acaba sendo o mais afetado”, explica Rodrigues.
Inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, avançou 4,83% no ano passado e, assim, configurou estouro do teto da meta — oitava vez que o alvo para o IPCA foi descumprido desde a implementação do sistema de metas de inflação, em 1999.
O resultado de 2024 foi influenciado principalmente pela alta de 7,69% do grupo Alimentação e bebidas. A inflação dos alimentos exerceu o maior peso no acumulado do ano passado.
Segundo dados do IBGE, os grupos Alimentação e bebidas (7,69%), Saúde e cuidados pessoais (6,09%) e Transportes (3,30%) responderam por, aproximadamente, 65% do valor total do IPCA de 2024.
A projeção do mercado financeiro para a inflação deste ano está em 5,65% — bem acima do teto da meta inflacionária de 2025, que é de 4,50%. O próprio Banco Central indicou que a meta tem 50% de chance de ser descumprida em 2025.