Você sabia que cachorros e gatos podem doar sangue? Sim, isso é possível. Porém, para que a vida de um bichinho seja salva por outro pet, é preciso que o doador atenda a diversos requisitos veterinários, além da autorização do tutor para o procedimento, já que em algumas situações o animal precisa ser sedado.
Ao contrário dos humanos, os pets não precisam passar por uma preparação antes da coleta do sangue, desde que atendam aos pré-requisitos, que dependem de variáveis como peso, idade, contato com a rua e, ainda, a tipagem sanguínea.
De acordo com a veterinária Fernanda Doles, responsável pelo HemoPet Center, banco de sangue veterinário em Goiânia, houve uma elevação na demanda por transfusão de sangue animal, juntamente com o aumento da expectativa de vida dos pets.
“A demanda por sangue animal vem crescendo muito, em todo o país. Primeiro, acredito que pelo fato de as pessoas levarem mais os pets ao veterinário e, por isso, muitas doenças estão sendo diagnosticadas de forma precoce, o que faz aumentar a demanda por transfusões. Antigamente, os animais domésticos não tinham expectativa de vida alta, hoje podem chegar até aos 20 anos de idade, então os cuidados veterinários aumentaram”, afirma ela.
Campanhas de doação
De acordo com Fernanda Doles, são os próprios bancos de sangue veterinários que promovem campanhas de conscientização sobre a importância de doação de sangue animal. Segundo ela, a captação e divulgação da doação de sangue é inteiramente feita pelo banco de sangue, principalmente através das redes sociais.
Para os animais que doam, há a vantagem de exames e todo o cuidado com a saúde prévia dos bichos. Já para os tutores que precisam do sangue, o custo pode ser alto. “O custo de uma bolsa de sangue animal é partir de R$ 400 podendo chegar até R$ 600 aqui na nossa região. Os valores cobrem os custos veterinários e os exames laboratoriais que são feitos. Em outras regiões de Brasil, uma bolsa de sangue chega a custar até R$ 1000”, afirma ela.
A veterinária esclarece que a coleta é um procedimento tranquilo e seguro, apesar de criterioso. Segundo ela, em cachorros não há a necessidade de sedação, como em felinos, porém, ela destaca que a coleta é rápida e sãos utilizadas técnicas para minimizar o estresse do doador. Uma bolsa de sangue é capaz de ajudar a salvar a vida de até 4 animais.
“A coleta em cães é feita sem nenhuma sedação, é muito tranquila e não oferece risco ao doador. Em felinos existe a necessidade de fazer a sedação, mas ela é bastante tranquila e o procedimento da coleta é bem rápido. Inclusive, enfrentamos uma falta de bolsa de sangue felino pela dificuldade em captar doadores, existe uma resistência maior dos tutores, existe o preconceito de que fará mal ao animal, de que ficará doente, mas isso não procede. O procedimento é seguro, feito em sala própria, com uso de feromônio e musicoterapia. A coleta é pet friendly”, completa Fernanda.
Veja os critérios para doação de sangue em cães e gatos:
Critérios de doação de cães
- Ter acima de 25kg
- Entre 1 e 8 anos de idade
- Temperamento dócil
- Vacinas em dia
- Fêmea não pode estar prenha ou amamentando
- Não pode estar com infestação de pulga e carrapato
- Não pode ter recebido transfusão sanguínea
Critérios de doação de felinos
- Ter entre 1 e 8 anos de idade
- Acima de 4kg
- Vacinas em dia
- Não pode ter acesso à rua
- Fêmeas não podem estar prenhas ou amamentando
Ainda de acordo com Fernanda, a doação de felinos se torna um pouco mais complicada pelos critérios. “Não é que ela seja mais difícil, é que para fazê-la há a necessidade de se fazer sedação e, por conta disso, muitas vezes encontramos resistência por parte dos tutores. Os animais também precisam ter um peso específico e, na maioria das vezes, são pequenos. Mas é um procedimento seguro e tranquilo”, ressalta ela.
Segundo ela, o banco de sangue enfrenta uma escassez de bolsas de sangue felino, e por vezes não é possível atender a demanda.
Para que a transfusão de sangue aconteça são feitos testes e exames no animal doador e ainda testes de compatibilidade.
Principais doenças
Conforme a explicação de Fernanda Doles, geralmente, os cães precisam de transfusão sanguínea para auxiliar no tratamento da doença do carrapato, que, segundo ela, é uma doença que leva a um quadro de anemia intensa. “Também há muitos pedidos para pacientes com insuficiência renal, leishmaniose e em casos de trauma. Mas a maioria é por doença do carrapato”, relata.
“Já em felinos a maioria dos pacientes são portadores de FIV ou FELV, que são doenças virais que não têm cura e cuja incidência vem aumentando, porque muitos tutores estão deixando de vacinar os gatos e, principalmente, permitindo a saída dos animais para passear na rua, o que aumenta bastante o risco de pegar essa doença”, alerta a veterinária.
Perda dolorosa
Recentemente, a jornalista Heloísa Lima passou pela experiência de precisar da doação de sangue para a gatinha Dora.
“Quando eu fiquei sabendo que a minha Dora estava muito doente, foi desesperador. Porque junto com a notícia que ela precisava de sangue, veio a informação que não havia disponível nos dois bancos de sangue pet em Goiânia. Eu sou jornalista, não pensei duas vezes. Pedi ajuda no grupo dos colegas, para tentar conseguir com algum veterinário que, eventualmente, tivesse alguma bolsa de sangue sobrando. Também, de última hora, foi difícil conseguir doação”, contou ela.
“Soube que havia sangue em um banco de sangue Pet em Brasília. Mas o estado de saúde da minha gatinha era muito grave, e havia o medo de que ela não resistisse. Mesmo assim, eu pedi o sangue de Brasília. Tive de pagar à vista, por Pix, porque não havia outra forma de pagamento disponível, duas bolsas de sangue ao custo de R$ 800 cada uma. Mais a taxa de transporte”, revela a jornalista que enfrentou a situação inesperada.
Apesar do esforço, a gatinha Dora não resistiu. “Ela conseguiu esperar até que o sangue chegasse, por volta das 23 horas. E também à madrugada da transfusão. Mas acabou morrendo na noite do dia seguinte. Foi uma experiência muito traumática, muito desesperadora. Eu queria fazer tudo para ajudar minha companheirinha de tantos anos, mas não encontrava um meio de fazê-lo. Se houvesse sangue disponível em Goiânia, tudo teria sido mais fácil. Quem sabe até minha Dorinha ainda estivesse viva.”
Apelo
Ainda sensibilizada pela perda da pet, Heloísa falou sobre a importância da doação de sangue e sobre a popularização do serviço para salvar mais animais, especialmente, os gatos.
“Eu quero pedir a todos os donos de gatinhos jovens e saudáveis que levem seus animais para doarem sangue. Não fará mal à saúde deles. Eles poderão fazer vários exames importantes para a saúde deles sem custo. E podem salvar vidinhas felinas. Hoje, outro gatinho precisa de ajuda. Amanhã, pode ser o seu. Espero que outros tutores se disponham a ajudar com regularidade. Sangue é vida também para os pets”, completou ela.