Recentemente, como quem está com tempo sobrando, resolvi voltar à sala de aula como aluno. Aproveitando que algumas universidades estão permitindo a frequência por módulo ou por disciplina, matriculei-me para assistir a um curso sobre Inteligência Emocional.
“Mas você escreve na Vida Simples há 20 anos e ainda não tinha estudado esse assunto?”. Claro que sim. E foi por isso que voltei à escola. Para saber das novidades, pesquisas recentes, abordagens inéditas. O que vi foi que, desde que Aristóteles se referiu ao assunto, temos variado os exemplos, mas o conceito é o mesmo. Também aprendemos, com o tempo, a dar mais valor ao tema, por perceber o quanto ele pode nos ajudar. Ou nos trair.
Exercício do autocontrole
O melhor momento foi quando a professora pediu um exercício. Cada um deveria descrever situações diferentes da vida em que não fomos emocionalmente inteligentes. Situações em que as emoções nos dominaram e nós perdemos, ainda que por instantes, o controle. Procurei em meus arquivos neurais e juro que me assustei, pois encontrei uma enciclopédia de situações assim. Não sabia nem por onde começar a lista. Tratei então de criar uma classificação de minha “burrice emocional” em vez de listar exemplos. Ficou assim:
Não fui emocionalmente inteligente quando minha reação foi desproporcional ao que a provocou;
Quando fui afetado por uma pessoa e culpei outra;
Quando tomei decisões e fiz escolhas puramente emocionais;
Quando não soube dizer “não” na hora certa, e depois me arrependi;
Quando não relacionei as emoções do momento com suas consequências no futuro;
Quando não manifestei alegria, gratidão, indignação, medo ou outra emoção que seria legítima naquela situação.
Considerações do exercício
Criei essa lista como exercício de aula e também de autoconhecimento. Cada um pode ter sua própria classificação. Após o exercício, a professora continuou a aula ponderando que, naqueles momentos, nós fomos “aprisionados” pelas emoções, pois havíamos perdido a liberdade de conduzir nossa vida de maneira apropriada.
Foi quando me lembrei de Sêneca, que criou a expressão “servidão psicológica” e afirmou que os homens livres, em uma Roma devassa e corrupta, estavam sendo escravos de suas paixões descontroladas, e que havia escravos mais livres que eles. Sábio mestre… Autocontrole é liberdade!
Texto originalmente publicado na revista Vida Simples (Edição 249).
Por Eugenio Mussak
Palestrante, escritor, professor e médico especializado em Fisiologia Humana