O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, possui um grupo de católicos em cargos chave da administração e, segundo a imprensa americana, tem interesse no conclave que vai eleger o novo pontífice, após o falecimento do papa Francisco nessa segunda-feira (21/4). Trump, inclusive, já anunciou que irá ao funeral do papa, em Roma, na quarta-feira (23/4).
Pelas redes sociais, Trump, que é presbiteriano, escreveu: “Descanse em paz, papa Francisco! Que Deus o abençoe e a todos que o amavam.” Trump encontrou o pontífice uma única vez, em 2017, em seu primeiro mandato como presidente dos Estados Unidos. Eles cultivavam visões diferentes sobre questões como imigração e meio ambiente.
O papa Francisco chegou a dizer que quem constrói muros “não é cristão”, em referência ao muro para separar o México dos EUA prometido por Trump.
Francisco também criticou duramente os planos da administração trumpista para deportações em massa de imigrantes, alertando que tal medida privaria os migrantes de sua dignidade inerente e “terminaria mal”.
Em dezembro de 2024, Trump fez um gesto claro frente ao papa Francisco, nomeando o conservador Brian Burch, detrator do falecido pontífice, como embaixador dos EUA na Santa Sé. Burch é cofundador e presidente do grupo conservador CatholicVote, que angariou votos para Trump nas eleições de 2023.
Em 2023, Burch afirmou ao The New York Times que ele e outros católicos conservadores dos EUA se sentiram ofendidos por Francisco, citando declarações do pontífice em 2015 sobre bons católicos não precisarem procriar “como coelhos”. Burch e sua esposa, Sara, têm nove filhos.
Quem são os católicos no governo Trump
O vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, e a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, professam a fé católica. O último líder político a se encontrar pessoalmente com o papa Francisco, inclusive, foi justamente o vice-presidente americano.
Segundo a Santa Sé, Vance e o papa Francisco tiveram uma breve reunião e foi a oportunidade para as felicitações de Páscoa. Aquela foi a primeira conversa entre líderes norte-americanos e a cúpula do Vaticano desde que Donald Trump assumiu o segundo mandato presidencial.
Vance já se autodenominou um “católico bebê” por ter se convertido à fé já adulto, em 2019. O papa presenteou o vice-presidente com uma gravata, terços e três grandes ovos de Páscoa de chocolate para os três filhos de Vance. “Rezo por você todos os dias”, Vance teria dito ao pontífice segundo relatos da mídia americana.
Por sua vez, a porta-voz da Casa Branca estudou na Central Catholic High School, uma escola católica particular em Lawrence, Massachusetts. “Me ensinou disciplina, me aproximou mais do meu relacionamento com Deus e também me ensinou a importância do serviço público e da retribuição à comunidade”, disse ela em entrevista. Ela disse começar todos os dias com uma oração.
“Sou orgulhosamente pró-vida. Acredito verdadeiramente que esta é uma das questões cruciais que o nosso país e o nosso mundo enfrentam”, disse ela.
“Precisamos incutir uma cultura que traga, promova e cuide da vida novamente, porque infelizmente a esquerda realmente dominou a mensagem sobre esta questão”, insistiu a responsável pela comunicação do governo com a imprensa. “Não se trata dos direitos reprodutivos das mulheres. Não se trata da saúde das mulheres. Trata-se da vida e da sua proteção, ponto final.”
Também são católicos a secretária de Educação, Linda McMahon; o secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr.; o secretário de Transportes, Sean Duffy; o secretário de Estado, Marco Rubio; e o diretor da Agência Central de Inteligência, a CIA, John Ratcliffe.
A lista ainda inclui nomes outros nomes que exercem influência na gestão trumpista, como Tom Homan, que foi diretor interino do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA no primeiro governo Trump, e Elise Stefanik, deputada republicana e indicada par ser embaixadora do país na ONU. Ambos trabalham com temas importantes para o governo americano, a questão migratória e o conflito entre Israel e Palestina.
Conclave
A Igreja Católica se prepara agora para definir o sucessor do argentino, que comandou a Igreja por 12 anos. A escolha será definida no conclave, ritual realizado sempre que um papa morre ou renuncia ao cargo, e que ocorre a portas fechadas, sem contato com o exterior por meio de jornais e internet ou mesmo conversas com pessoas de fora.
No conclave, 135 cardeais com poder de voto no Colégio de Cardeais, e com menos de 80 anos, são reunidos na Capela Sistina, no Vaticano, para que escolham o novo papa por meio de votação.
Do total de cardeais eleitores, cinco (3,7%) foram indicados pelo papa São João Paulo II, 22 (16,3%) foram indicados pelo papa Bento XVI e 108 (80%) foram indicados pelo papa Francisco.
Um cardeal precisa obter 2/3 dos votos para se tornar o novo líder da Igreja Católica. As votações são repetidas até que um cardeal alcance esse número de votos.
A cada votação, os votos são queimados e depositados em uma chaminé da Capela Sistina, que indica ao mundo o resultado do pleito. Caso a fumaça saia preta, o colegiado ainda não chegou a um consenso sobre o novo papa. O novo líder da Igreja Católica é anunciado quando uma fumaça de cor branca for emitida.
Relembre a trajetória do papa Francisco
- Francisco foi o primeiro papa latino-americano, sucedendo Bento XVI após a renúncia.
- Jorge Bergoglio nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos.
- Formado em química, decidiu seguir a vida sacerdotal aos 20 anos, em 1958.
- Papa Francisco lecionou na Faculdade de São Miguel e obteve doutorado em teologia pela Universidade de Freiburg, na Alemanha.
Doença
O pontífice ficou internado por cerca de 40 dias após ser diagnosticado com pneumonia dupla. A última aparição pública do papa foi feita no Domingo de Páscoa (20/4), na Praça de São Pedro para abençoar os fiéis.
Durante a aparição pública na Praça de São Pedro, ele acenou para as milhares de pessoas que estavam presentes e fez um apelo aos responsáveis políticos “para que não cedam à lógica do medo, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento”.