Há cerca de quatro meses, o governo brasileiro segura a aprovação do novo embaixador designado para assumir a missão diplomática de Israel no país. A informação, capaz de aumentar a instabilidade na relação entre Brasília e Tel Aviv, foi confirmada ao Metrópoles por interlocutores ligados à diplomacia israelense.
Restando dois meses para a aposentadoria do atual embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, o país comandado por Benjamin Netanyahu corre o risco de ficar sem um representante de primeiro escalão na representação diplomática em Brasília. Na prática, isso rebaixaria as relações entre Brasília e Tel Aviv.
Em janeiro, a administração israelense indicou Gali Dagan para o posto, e aguarda o aval brasileiro. O diplomata cumpria missão na Colômbia, mas deixou o país em junho de 2024, após o governo de Gustavo Petro romper relações com Israel por conta das ações israelenses na Faixa de Gaza.
Fontes ligadas à diplomacia de Israel, no entanto, dizem que o governo do Brasil “sentou em cima” da solicitação. Isso, porque a administração de Luiz Inácio Lula da Silva ainda não aprovou o agrément – consentimento para um diplomata assumir uma embaixada – de Dagan.
Questionado sobre o assunto, o Ministério das Relações Exteriores informou que os processos de substituição de embaixadores são sigilosos. O governo brasileiro preferiu, portanto, não fazer comentário a respeito da indicação de Gali Dagan.
Tensão barra planos de expansão
Além da demora atípica na aprovação do novo nome escolhido para assumir a embaixada de Israel no Brasil, a tensão entre os dois países tem travado planos israelenses de expansão diplomática. Nos bastidores, existe a intenção de que um terceiro consulado do país seja aberto em solo brasileiro, no estado da Bahia. Ele se somaria a outras duas representações já existentes, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Foi no estado brasileiro, mais especificamente na região de Morro de São Paulo, que um soldado das Forças de Defesa de Israel (FDI) estava quando se tornou alvo da Justiça do Brasil em janeiro deste ano.
Apesar do desejo, as conversas sobre o assunto seguem travadas e sem previsão de avanços.
Problemas duram anos
Desde o início do terceiro mandato de Lula, Brasília e Tel Aviv têm enfrentado picos de tensão e instabilidade nas relações diplomáticas. Para o governo de Israel, algumas declarações e posturas do presidente brasileiro sobre a guerra na Faixa de Gaza são vistas como apoio ao grupo extremista Hamas.
O exemplo mais marcante aconteceu em 2024, quando Lula comparou as ações israelenses em Gaza – que já mataram mais de 50 mil pessoas até o momento – com o Holocausto de judeus promovido pela Alemanha Nazista.
O episódio gerou o título de “persona non grata” ao líder brasileiro, e ainda provocou a retirada do embaixador que chefiava a embaixada do Brasil em israel, que até o momento segue sem um representante de primeiro escalão.