Sérgio Moro sugeriu tornar públicos – oficialmente – os relatos dos delatores da Odebrecht sobre os pagamentos de propina a Nicolás Maduro. Folha dá um tiro no pé ao insinuar conluio entre Moro e o MPF.
Sérgio Moro, Deltan Dallagnol respondeu:
Concordo. Há umas limitações no acordo, então temos que ver como fazermos. Mais ainda, acho que é o caso de oferecer acusação aqui por lavagem internacional contra os responsáveis de lá se houver prova.
Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos.
No grupo da Lava Jato, os procuradores discutiram essa possibilidade:
Paulo Roberto Galvão: Mas pessoal, vamos refletir. Já tinha conversado com Orlando sobre isso. Vejam que uma guerra civil lá é possível e qq ação nossa pode levar a mais convulsão social e mais mortes (ainda que justa ou correta a ação). Lá não é Brasil.
Não estou dizendo que sim ou que não, apenas que precisa ser refletido.
Roberson Pozzobon: Caraaaaaca.
Orlando Martello: Pessoal, sobre Venezuela. Não dá para abrir simplesmente o que temos. Descumpriríamos o acordo. Não dá para arriscar um descumprimento de acordo, inclusive com consequências cíveis de nossa parte, bem como da União.
A discussão dos procuradores, portanto, foi sobre a divulgação legal dos documentos, para reagir ao arbítrio da ditadura venezuelana, que naquele mesmo dia havia destituído a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, anulando qualquer chance de investigação a respeito de Nicolás Maduro.
E qual foi o resultado final?
Os documentos não se tornaram públicos, apesar da mensagem de Sergio Moro. Para quem diz que o juiz mandava nos procuradores, é mais um tiro no pé.
A reprodução do diálogo entre Moro e Deltan Dallagnol mostra que o juiz não avaliza a sugestão do procurador sobre eventual acusação de lavagem de dinheiro internacional.
“Acusação daí vcs tem que estudar viabilidade”, escreveu o juiz.
Simples assim.
Sergio Moro usou o Twitter neste domingo para comentar o novo episódio da novela da Folha contra o ministro.
“Novos crimes cometidos pela Operação Lava Jato segundo a Folha de São Paulo e seu novo parceiro, supostas discussões para tornar públicos crimes de suborno da Odebrecht na Venezuela, país no qual juízes e procuradores são perseguidos e não podem agir com autonomia. É sério isso?”
Em 5 de agosto de 2017, Sergio Moro escreveu a Deltan Dallagnol:
“Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?”
Isso a Folha de S. Paulo – a fim de escandalizar o fato – preferiu omitir, claro.
Naquele mesmo sábado, 5 de agosto de 2017, a procuradora-geral venezuelana, Luisa Ortega Díaz, foi destituída pela ditadura de Nicolás Maduro, justamente por tentar investigar as propinas da Odebrecht na Venezuela. O caso foi encerrado pela brutalidade do regime, que obstruiu a lei.
A Folha de S. Paulo, que publica alegremente documentos roubados, agora ataca Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato por terem estudado medidas legais – repetindo: legais – para revelar documentos verdadeiros – repetindo: verdadeiros – que incriminavam uma ditadura corrupta que perseguia o Judiciário.
A Folha de S. Paulo, no terceiro episódio de sua novela contra Sergio Moro, fez mais um favor à Lava Jato.
Ao analisar as mensagens supostamente roubadas a Deltan Dallagnol sobre a propina de Nicolás Maduro, o jornal mostrou mais uma vez que o juiz e os procuradores agiram rigorosamente dentro da lei.
A Folha de S. Paulo virou uma sucursal do Intercept.
A ombudsman diz que “os três repórteres do jornal têm acesso livre ao material, com a condição de que isso seja feito dentro da Redação do The Intercept”.
A ombudsman diz também que “se o jornalista não participou nem induziu a violação, ele conta com proteção legal, sobretudo se o conteúdo tem interesse público”.
Mas ela tem certeza de que nenhum jornalista participou do crime? A Folha de S. Paulo conhece a fonte do Intercept?
A ombudsman assegurou igualmente que as mensagens não podem ser periciadas, exceto os áudios, que devem ser vazados em breve.
Sergio Moro foi questionado pelo Correio Braziliense se é possível um juiz ser totalmente imparcial. Ele respondeu:
“O que define a imparcialidade é o juiz decidir conforme aquilo que se encontra nos autos, com base na prova e na lei. Um juiz nunca pode se despir da condição de ser humano e dos valores que ele carrega. Mas ele sempre vai decidir com base na lei e nas provas. Essa é a questão da imparcialidade”, afirmou.