A primeira fala pública do primeiro-ministro indiano sobre as hostilidades e o cessar-fogo entre Índia e Paquistão dão o tom de trégua frágil, costurada pelo governo de Donald Trump. Em um pronunciamento à nação na segunda-feira (12/5), Narendra Modi destacou que as operações militares contra o país vizinho estão apenas suspensas, mas serão retomadas em caso de qualquer ameaça ou atentados como o que aconteceu na Caxemira em 22 de abril.
Tensão envolvendo a caxemira
- A violência entre Índia e Paquistão ressurgiu na última semana, com ataques mútuos entre os dois países que possuem, juntos, 342 armas nucleares.
- Um ataque terrorista na Caxemira indiana foi o ponto de partida da escalada. Na ocasião, 26 pessoas morreram.
- Após o atentado em um resort, o governo da Índia lançou uma série de bombardeios contra o Paquistão. O objetivo, segundo o governo de Narendra Modi, seria eliminar instalações utilizadas por grupos terroristas no território paquistanês.
- A resposta do Paquistão veio logo em seguida, com o início de uma operação militar contra posições indianas próximas à Linha de Controle (LoC) entre os dois países na Caxemira.
Modi afirmou que a Operação Sindoor, como foi classificada a recente ofensiva contra o Paquistão, está apenas suspensa temporariamente, e ganhou status de política “decisiva na abordagem estratégica da Índia” . Portanto, o país vizinho pode voltar a ser atacado a qualquer momento com base na nova abordagem militar.
“Se a Índia for atacada, daremos uma resposta esmagadora”, disse Modi na primeira fala pública desde que as duas nações iniciaram as hostilidades e ataques mútuos, na última semana. “Não faremos distinção entre terroristas e governos que os patrocinam”, acrescentou.
A mesma retórica de ameaças foi utilizada por autoridades do Paquistão, que também prometeram retaliações caso o país volte a ser ameaçado pela Índia.
“Se a Índia escolher o caminho da hostilidade novamente, o mundo testemunhará o próximo capítulo da nossa resposta”, disse o ministro da Defesa paquistanês, Khawaja Asif.
Violações no cessar-fogo que não muda a tensão histórica
Horas após a trégua entre as duas potências nucleares ser anunciada por Trump, ambos os lados passaram a trocar acusações sobre violações no acordo de cessar-fogo.
A primeira delas por parte do ministro chefe da Caxemira e Jammu indiana, Omar Abdullah.
“O que diabos aconteceu com o cessar-fogo? Explosões foram ouvidas em Srinagar”, disse Abdullah em uma publicação no X no sábado (10/5). Ele ainda acrescentou que os sistemas do local chegaram a ser acionados na ocasião.
Veja o momento em que sistemas de defesa aéreo são acionado na Caxemira indiana:
Em seguida foi a vez do Paquistão falar em rompimento da trégua. Em uma declaração à mídia estatal paquistanesa, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores disse que a Índia violou o cessar-fogo em algumas áreas da Linha de Controle (LoC) entre os dois países na Caxemira.
“Houve violações por parte da Índia em algumas áreas, apesar do cessar-fogo”, declarou o porta voz da chancelaria paquistanesa.
De acordo com autoridades locais, ao menos duas pessoas teriam ficado feridas após militares do Exército da Índia abrirem fogo nas áreas de Rawalakot e Bhimber, na Caxemira paquistanesa.
Para especialistas ouvidos pelo Metrópoles, a atual trégua só coloca panos quentes em uma tensão histórica que se arrasta por décadas. E que só será resolvida se Islamabade e Nova Déli se sentarem na mesa de negociações para discutir a Caxemira, território alvo de uma disputa que dura décadas.
“O panorama do conflito não muda com o cessar-fogo. A disputa pela Caxemira continua, ambos os lados estudarão profundamente as lições das ações militares destes dias e, com isso, continuaram a comprar armas ou desenvolvê-las. Fora isso, diferente de outros momentos, não há disposição por parte dos atuais governos de um real compromisso de paz que resolva a questão. Ambos acham que têm direito a totalidade da Caxemira, o que sem dúvida, cria grandes dificuldades de qualquer diálogo”, explica o professor Sandro Teixeira, da Escola do Comando e Estado-Maior do Exército do Brasil (ECEME).