Os portugueses votam neste domingo (18/5) em eleições legislativas que podem permitir que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, expanda sua maioria de direita moderada na Assembleia. Entre os principais temas esquecidos da campanha eleitoral que terminou nessa sexta-feira (16/5) está a economia. No entanto, ameaças de recessão pairam sobre o país.
Advogado de 52 anos, Montenegro foi a figura central da campanha. Ele mesmo provocou a eleição antecipada ao renunciar em março, em meio a suspeitas de conflito de interesses em relação às atividades de uma empresa de consultoria registrada em sua casa e em nome de seus filhos.
“Ninguém nunca foi tão transparente como eu”, disse o primeiro-ministro em seu último comício, em resposta ao líder da oposição socialista Pedro Nuno Santos, que o acusou de “misturar política e negócios” ao receber dinheiro de empresas privadas após tomar posse.
No entanto, as pesquisas de intenção de voto mostram que “o eleitorado português demonstra uma certa tolerância em relação a este tipo de questões, e claramente não ganhou a dimensão que a oposição esperava”, nota a politóloga Filipa Raimundo, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE).
A coligação governamental de direita moderada, a Aliança Democrática (AD), teria 34% das intenções de voto, contra 26% do Partido Socialista (PS), de acordo com a última sondagem publicada pela mídia portuguesa.
O partido de extrema direita Chega pode obter 19% dos votos, um pouco mais do que obteve nas eleições legislativas de março de 2024, e assim consolidar sua posição como terceira maior força política do país.
Segundo a mesma pesquisa, a AD de Luís Montenegro poderia conquistar até 95 cadeiras das 230, ficando abaixo da maioria absoluta de 116 deputados.
As seções eleitorais abriram às 8h (3h no horário de Brasília) e a televisão deve revelar as pesquisas de boca de urna às 20h (17h no horário de Brasília).
Como o primeiro-ministro tem se recusado a governar com o apoio da extrema direita, ele espera formar uma maioria mais forte ao fechar um acordo com o partido Iniciativa Liberal, creditado com 7% das intenções de voto.
“Sei que os portugueses estão cansados de eleições e que são os primeiros a querer estabilidade”, disse Montenegro. “Precisamos de uma liderança estável (…) que nos permita superar as incertezas e adversidades que vêm de fora”, enfatizou, dirigindo-se aos eleitores ainda indecisos.
Decepção e cansaço
Embora o primeiro-ministro seja o favorito nestas eleições parlamentares, os portugueses continuam insatisfeitos. Esta é a terceira vez em três anos que eleições são organizadas e os eleitores estão cansados das promessas dos políticos. Além disso, o descontentamento com o alto custo de vida está crescendo.
Neste último ponto, o índice de satisfação do consumidor acaba de cair 20 pontos. “É preocupante, claro”, diz Fernando Pinheiro, morador de Lisboa, à RFI. Nós que estamos aqui, todos os dias no trabalho, quando vamos às compras, sabemos muito bem quanto custa. Amanhã vai ficar ainda mais caro, está aumentando o tempo todo. As pessoas estão reclamando dos salários porque eles não são mais suficientes para pagar o aluguel”, reclama.
“É demais! Temos novas eleições depois de um ano e a situação vai continuar exatamente igual”, lamenta José Silveira, atrás do balcão da sua loja de artesanato no centro de Lisboa.
“Espero que saia uma maioria absoluta, para termos um pouco de estabilidade”, diz Fátima Lopes, engenheira de 61 anos e que “gostou bastante” das ações do governo de centro-direita de Montenegro.
Pedro Vaz, um vendedor de sucos de 49 anos, discorda. “Estamos indo um pouco pior do que antes em certos aspectos”, acredita ele, expressando preocupação com o “excesso de imigração”. A população estrangeira de Portugal quadruplicou desde 2017.
A imigração e a ética dos líderes políticos são os principais temas de campanha da extrema-direita, que tem experimentado um crescimento meteórico desde a fundação do Chega em 2019. A reta final da campanha de seu presidente, André Ventura, ex-comentarista de futebol de 42 anos, foi, no entanto, interrompida por problemas de saúde.
No primeiro trimestre de 2025, o PIB de Portugal caiu meio ponto percentual em comparação com o mesmo período do ano passado, devido a uma situação econômica difícil. E se a tendência continuar, o país caminhará para a recessão. A ameaça, no entanto, ainda é muito recente para afetar o voto português. Esta é a opinião de Filipa Raimundo. “As eleições estão próximas dos resultados trimestrais. O Primeiro-Ministro conseguiu evitar o assunto e a oposição não o abordou. É verdade que nunca tivemos um desemprego tão baixo, 6,3%. Mas isso não evolui”, analisa a cientista política.