Suicídio: Até o início de maio, foram 1.828 atendimentos realizados pelo Corpo de Bombeiros do DF. Ano passado, o valor chegou a 4.611
Henrique França, 47 anos, conta que já atentou contra a própria vida três vezes. Ex-dependente químico e limpo há 14 anos, ele considera que é importante tratar o tema como forma de alerta.
“Hoje, me tornei pai, professor e empresário. Voltei a praticar exercício físico. Mas cheguei muito perto da morte. Quando se fala disso temos que ter cuidado, mas é importante falar para que não seja um assunto tabu. E para incentivar as pessoas a buscarem ajuda”, diz.
Morador do Jardim Botânico, Henrique afirma que familiares e amigos são essenciais no apoio e no combate ao suicídio. “É preciso estar observando os sinais que a pessoa dá, porque, muito dificilmente, a pessoa que está nessa situação vai falar antes. E, o mais importante é: se você for quem está nessa situação, procure ajuda profissional. Não tenha vergonha. Tirar a própria vida não vai resolver”, completa.
Importância do alerta
João Leal Neto, 70, é fundador da organização não-governamental (ONG) Ação Brasil Sem Dor. O grupo tem atendimento especializado para pessoas que estão com pensamentos suicidas.
“A maioria que atendemos têm de 13 a 19 anos. Já chegamos a ter pacientes de 10 anos. É algo muito delicado, mas que precisa de atenção. E, hoje, acredito que não temos políticas públicas que sejam de fato eficientes. Temos o Maio Amarelo, mas esse alerta deve ser contínuo, durante o ano todo”, defende.
O psiquiatra e professor da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Sodré explica que a pandemia agravou a saúde mental da população e alerta para a importância do tratamento. “Saúde mental é algo sério e, até que se chegue à tentativa de retirar a própria vida, é um caminho longo. Se a condição for identificada e tratada corretamente, o paciente pode obter uma melhora significativa”, diz.
Sodré considera que é preciso se ter mais políticas públicas que facilitem o acesso da população ao atendimento psicológico.
“As pessoas precisam de um local para serem ouvidas e atendidas. Aos pacientes, o que posso dizer é: procure ajuda. Você não está sozinho e não precisa estar sozinho. Busquem por uma pessoa em que confiam para poderem ajudar. Pode ser familiar, amigo, líder religioso, alguém de confiança que possa te levar ao serviço psiquiátrico. É algo urgente e tem como sair disso”, completa.
Busque ajuda
O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.
Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.
Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.
Disque 188
A cada mês, em média, mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, 32 pessoas cometem suicídio no Brasil. Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em Brasília em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem 24 horas por dia a quem precisa.