Ao subir a taxa básica de juros, a Selic, para 12,25% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) salientou que devem ser feitos novos aumentos de 1 ponto percentual no primeiro trimestre de 2025. As duas primeiras reuniões do Copom estão marcadas para o fim de janeiro e meados de março.
Em comunicado divulgado na quarta-feira (11/12), o comitê anteviu, “em se confirmando o cenário esperado”, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A Selic poderá chegar a 14,25% ao ano ainda nos primeiros meses do ano que vem, portanto, logo no início da presidência do próximo diretor da autoridade monetária, Gabriel Galípolo.
A sinalização dada pelo Copom abriu espaço para especialistas analisarem a possibilidade de a Selic atingir a marca de 15% ao ano já em 2025. Mas quão real é essa hipótese?
Para Volnei Eyng, CEO da Multiplike, a Selic em 15%, por enquanto, fica na casa da especulação. Ele observa que, se as coisas caminharem bem, o BC deve manter a taxa em 14,25% e seguir observando como a economia se comporta.
Ele explica que o ciclo de aumento da Selic, iniciado em setembro, costuma levar seis meses para ser sentido.
“Acredito que até março teremos um alívio sobre a inflação, e o dólar tende a baixar no período também devido aos novos aumentos que ainda serão feitos no juros. Há interesse do governo também em manter a inflação sob controle porque isso sempre deixa o país mais pobre, as pessoas seguram investimentos, não financiam, movimenta menos a economia. Então acredito que, se necessário, pode ser tirada uma ‘bala de prata’ da manga para o controle fiscal, atenuando ainda mais toda a situação para alta dos juros”, argumenta.
Já Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, entende que a possibilidade de a Selic atingir 15% em 2025 é “bem real” e está ancorada nos atuais desafios enfrentados pela política monetária.
Com a Selic a 15%, os impactos seriam significativos, já que no curto prazo, o encarecimento do crédito restringe o consumo e o investimento, resultando em desaceleração econômica. Setores como varejo e construção civil sentem o peso de uma menor atividade, enquanto o mercado de trabalho pode apresentar aumento no desemprego, explica.
O cenário, ele ressalta, também dependerá da evolução dos fatores externos, como a política monetária nos Estados Unidos, e internos, como a consolidação de um ajuste fiscal efetivo. “Sem esses avanços, o aperto monetário pode ser prolongado tende a ser mais agressivo, aumentando o custo de estabilizar a economia”, prossegue Lima.
Impactos
Os analistas ressaltam que, caso a Selic em 15% se concretize, os impactos na economia brasileira serão severos, com encarecimento do crédito, desaceleração do consumo e retração nos investimentos.
“Essa alta dos juros, embora necessária para conter a inflação e estabilizar o câmbio, poderia trazer reflexos indiretos para os investimentos internacionais, especialmente nos EUA. Com uma Selic tão elevada, o Brasil se tornaria ainda mais atrativo para o capital estrangeiro em busca de retornos altos, o que poderia levar a uma redução do fluxo de investimentos em ativos americanos, especialmente em títulos do Tesouro com rendimentos mais baixos”, explica Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus.
Além disso, a política monetária ainda mais restritiva no Brasil poderia reforçar a percepção de aversão a riscos em mercados emergentes, impactando as decisões de investidores globais.
Nesse contexto, investidores nos EUA precisariam acompanhar de perto a dinâmica entre juros reais e inflação no Brasil, avaliando como as mudanças no fluxo de capital e na política monetária dos dois países impactariam o comportamento de ativos em ambos os mercados, analisa Laatus.