Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, ao assumir seu segundo mandato chegou ao poder em um cenário favorável, com os republicanos garantindo maioria no Senado e na Câmara. Com isso, o Partido Democrata tem encontrado dificuldades para fazer oposição e busca maneiras de se organizar. Para entender o processo, o Metrópoles conversou com o internacionalista e especialista em Partido Democrata Emanuel Assis.
Estruturação da oposição
Para o especialista, mesmo “o Partido Democrata continuando perdido, tentando juntar os cacos da derrota da Kamala Harris, buscando uma liderança, buscando uma agenda, buscando uma tática que seja de consenso entre as diferentes alas do partido que estão divididas, bem divididas inclusive, eles estão tomando algumas medidas”.
“Eu classificaria a oposição ao Trump em duas categorias principais. A primeira seria uma oposição institucional, encabeçada principalmente pelo Partido Democrata, que apesar de ter minoria no Congresso, tanto no Senado quanto na Câmara dos Representantes, tem tentado se mobilizar buscando articulações com republicanos moderados”, explica ele.
Outra ferramenta utilizada pela oposição, segundo ele, é entrar na Justiça para tentar barrar as medidas do Trump.
“A segunda forma de oposição é uma oposição mais popular, do próprio eleitorado norte-americano, e de alguma maneira a gente pode colocar até mesmo como uma oposição orgânica, que foi surgindo e se construindo nesses 100 dias do governo Trump. Principalmente devido às últimas medidas que o Trump vem promovendo com foco no tarifaço, que tem trazido perspectivas de muito prejuízo para a economia dos Estados Unidos”, afirma Emanuel.
“Tiro no pé”
O especialista destaca que “o tarifaço de Trump mexeu em um ninho muito grande de vespas, que é a classe média, nos Estados Unidos, que é uma base eleitoral muito grande e muito forte no país. Então, isso tem aumentado a impopularidade do Trump e aí o que tem acontecido é que uma parte do Partido Democrata, e essa parte são os progressistas, principalmente liderados ali por figuras como o Bernie Sanders e o Ocasio Cortez, têm feito uma série de comícios ao redor do país e de protestos, mobilizando de fato o eleitorado”.
“A parte do Partido Democrata que aposta mais na institucionalidade e na judicialização também aposta no próprio tiro no pé. Eles acreditam que o Trump vai cometer uma série de erros, como ele tem cometido, e que esses próprios erros vão ser a linha do fracasso do governo”, destaca Emanuel.
Boa parte do partido está “se fingindo de morto, parado esperando as coisas acontecerem por si só. Enquanto a outra parte do partido, os progressistas não acreditam nessa teoria e apostam na mobilização popular. O que tem tido um efeito, até agora”.
“Eu acredito que esse fator do movimento progressista no Partido Democrata de alguma maneira tem trazido de volta a vida o Partido Democrata desde a derrota da Kamala Harris. É o primeiro momento onde o Partido Democrata enxerga alguma força e alguma perspectiva de se apresentar novamente como uma alternativa política”, destaca Emanuel.
O especialitsta destaca que “o partido tem ganhado uma certa força, tem começado a se apresentar novamente como alternativo, mas o ponto principal que ainda não conseguiram resolver é qual a figura vai ser o destaque do partido para o próximo período. Porque apesar do Sanders estar encabeçando o eleitorado contra o Trump, ele é um senhor de 84 anos e o fator idade foi um fator bem discutido nas últimas eleições e aí um senhor de 84 anos não é exatamente uma figura que representa a renovação da política nos Estados Unidos”.
“A oposição está conseguindo, no caso da oposição popular, mobilizar uma certa organização do eleitorado contra o Trump, isso pode ser fundamental para as próximas eleições e também para pressionar o institucional, nesse sentido de barrar algumas medidas do Trump, e a oposição institucional, que tem apostado nessa judicialização, tem conseguido alguns ganhos na Suprema Corte”, concluiu o especialista.