Com a morte de Francisco, o conclave se reuniu, nessa quinta-feira (8/5), e elegeu como novo papa Leão XIV. Antes da escolha, os cardeais vinham dizendo que queriam um líder religioso que seguisse as práticas do antecessor. E, assim, um agostiniano de Chicago, Estados Unidos, se tornou o novo Santo Padre da Igreja Católica.
Com a eleição de Robert Francis Prevost, fiéis de todo o mundo começaram a se questionar sobre qual seria a forma de Leão XIV construir seu papado. Ou seja, se seria conservador ou progressista.
Doutor em História pela Universidade de Goiás e professor de história da igreja no Instituto São Boaventura dos Franciscanos Conventuais, Sérgio Ricardo Coutinho explica que o norte-americano não pode ser visto no âmbito de uma visão dicotômica, que separa progressistas e conservadores. De acordo com o teólogo, o novo papa “acena para vários grupos, a Igreja Católica é muito diversa e o colocar em dois blocos assim seria simplista demais”.
“A gente pode dizer que ele tem um olhar missionário, de uma igreja que está preocupada em ir para as periferias. Nesse ponto ele é parecido com Francisco, de se inserir no meio dessa sociedade, de cuidar e e não de julgar essa sociedade”, revela Sérgio.
O especialista diz que a trajetória de Leão XIV “lembra aquela famosa parábola de Jesus ‘O bom samaritano’. Alguém que é fora da cultura, mas que ajuda aquele que precisa mais, se fez próximo do outro. Então, essa dimensão missionária e misericordiosa, isso é uma característica dos agostinianos, e dele também, eu acho que nesse ponto ele é muito parecido com Francisco, nesses ideais”.
Segundo o teólogo, o discurso inaugural do papa também acenou para grupos teologicamente mais ortodoxos, por ele ser formado em direito canônico. “Ou seja, ele domina muito as leis eclesiásticas, a aplicação dessas leis eclesiásticas.”
“Para esses grupos, vamos dizer assim, ligados à ordem, à norma, eles veem com bons olhos, para aqueles grupos que defendem a burocracia romana, as estruturas de poder romanas, ele também é alguém que vem dessas estruturas, porque ele passou os dois últimos anos como prefeito para os bispos. Ele conhece bem os meandros da cúria romana, então ele é um homem da cúria também”, explica Sérgio Coutinho.
Sérgio Ricardo Coutinho conclui que Leão XIV “é um homem do direito canônico, homem da cúria, mas também um pastor, missionário”.
Sinais nas vestimentas
O teólogo aponta que o novo pontífice mandou avisos de como será seu papado por meio das vestimentas escolhidas para se apresentar ao mundo.
“Ele não foi à sacada sem nenhum sinal de indumentárias de poder, como fez o Francisco. Mas aparece com aquelas boas e velhas roupas, típicas dos papas anteriores. Mas não calça o sapato vermelho”, destaca o teólogo, para quem o papa enviou uma mensagem com duplo sentido.
“Um sinal para os grupos que gostam dessa tradição milenar, multimilenar do papado, a força do papado simbólico, mas também mostra que não aceita todos os símbolos de poder, mesmo sendo o sapato vermelho, que é um típico símbolo de poder para os membros da igreja”, destaca o teólogo.
Segundo Sérgio Coutinho, Prevost vem de uma ordem medieval, o que mostra a força das ordens religiosas tradicionais contra grupos que ganharam muito poder durante o governo do João Paulo II, por exemplo, Opus Dei, Legionários de Cristo, Neo-Catecumenato, esses grupos perderam muito poder que tinham na época do João Paulo II”.
Futuro do papado nas mãos de Leão XIV
O especialista diz que acredita o novo papa manterá a “pegada aberta de Francisco, em termos de acolhida dos imigrantes, a questão da misericórdia, a questão da construção de pontes em diálogos da paz, e também a questão da sinodalidade, colocar práticas democráticas na governança da igreja”.
“Eu acho que isso é um ponto que Francisco abriu, mas não teve tempo de aprofundar, porque ele faleceu. Mas me parece que o Leão XIV vai dar continuidade a esse processo, uma igreja sinodal que está em diálogo e conexão com o grande evento da Igreja Católica dos anos 1960, que foi o Concílio Vaticano II, que possibilitou uma Igreja que pudesse dialogar mais com o mundo moderno e não ficar acusando e condenando o mundo moderno”, ressalta Sérgio.