Um mês antes de ser espancado por um servidor da Prefeitura de Santo Antônio do Descoberto (GO), o jornalista Ronaldo Chaves tinha sido ameaçado de morte pelo deputado estadual André do Premium, casado com a prefeita do município. Em mensagens, o deputado fala que iria para cima do jornalista “com gás ou veneno”.
“Faça mais uma matéria só mais uma”, disse o parlamentar na troca de mensagens.
Leia os prints das conversas:
Essa troca de mensagens surgiu após Ronaldo publicar o caso do suposto estupro de um garoto dentro de uma escola na rede municipal. Essa seria a segunda violência sexual dentro da mesma unidade de ensino sob a gestão do atual secretário de Educação do município.
Para ter certeza da veracidade das conversas, o Metrópoles solicitou ao jornalista que gravasse um vídeo abrindo as mensagens do celular. Também conferiu o número que foi borrado na matéria para não expor o contato.
Veja as imagens:
Procurado, o deputado disse que não mandou bater em ninguém e que se tivesse ordenado não seria pela manhã nem mesmo que seria apenas “tapa na cara”. Ouça esse trecho da entrevista:
Nessa terça-feira (13/5), Ronaldo foi espancado pelo diretor de audiovisual da prefeitura de Santo Antônio do Descoberto. No mesmo dia, Ronaldo divulgo divulgou no portal 14 de mio uma reportagem apontando que o município gastou aproximadamente R$ 1,5 milhão para contratar artistas como Zezé di Camargo, Bonde do Tigrão e Grupo Revelação para o aniversário da cidade.
Em um vídeo divulgado por páginas que apoiam a prefeitura, o servidor José Sobreiro de Oliveira Filho aborda Ronaldo na rua, com socos no rosto, que tenta se afastar. Em um outro momento o jornalista recebe um mata-leão e é derrubado no chão. Ronaldo teve lesões no braço, no rosto e no joelho. José só interrompe as agressões quando outras pessoas se aproximam. Assista:
José Sobreiro Filho ocupa o cargo de diretor de audiovisual do município desde janeiro deste ano. O comissionado negou que a agressão tivesse ocorrido por conta das publicações, mas sim por uma rixa antiga devido a outras matérias.
“Ele fez muitas matérias minhas dizendo que eu roubava a prefeitura”. Questionado porque não processou e já partiu para a agressão, o servidor que ocupa cargo de diretoria na gestão municipal alegou que não pensou direito.
O ataque aconteceu às 9h30, horário do expediente do servidor. Perguntado porque não estava trabalhando, ele disse que se sentia gripado e estava a caminho do hospital. Questionado sobre o atestado médico para não comparecer ao restante do expediente, José disse que com a briga desistiu de ir ao hospital e que, como não foi trabalhar, imagina ter levado falta.
Procurado, o deputado disse que não mandou ninguém bater e que se tivesse ordenado não seria pela manhã nem mesmo que teria sido apenas “tapa na cara”. Ouça esse trecho da entrevista:
O parlamentar André do Premium confessa as ameaças, mas alega que nunca fez nada contra o jornalista. Ele ainda garante que o servidor será demitido do cargo.
As imagens foram gravadas e divulgadas pela página no instagram “SAD Estamos de Olho”, que costuma divulgar a prefeitura e, inclusive, fazer collabs (publicação colaborativa, onde duas ou mais contas criam e compartilham uma mesma publicação no feed ou no Reels, aparecendo como autores conjunto) com os perfis do deputado estadual e da prefeita
Ronaldo recebeu o vídeo no Instagram e se sentiu constrangido pelo tom jocoso, em que o chamavam de “pseudo jornalista” e diziam que ele levou umas “mãozadas”.
A reportagem procurou a página SAD, Estamos de Olho para saber se eles tinham sido avisados que haveria uma agressão já que começaram antes da violência começar. O perfil também foi questionado se há alguma parceria com o deputado e a prefeita para divulgar collabs com os dois. O administrador do perfil respondeu às investidas da reportagens com insultos e acabou não esclarecendo o que de fato havia sido questionado.
O Metrópoles procurou a prefeitura de Santo Antônio do Descoberto, mas também não teve resposta.
Os crimes de lesão corporal e de ameaça foram registrados na delegacia do município, que investiga o caso.