O presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, e o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, demonstraram nesta segunda-feira (14/4) total sintonia na luta contra o “crime organizado” e sobre a deportação de imigrantes “ilegais”. Durante encontro na Casa Branca, Bukele afirmou que não tem como devolver aos EUA um imigrante salvadorenho deportado por engano pela administração norte-americana.
Falando no Salão Oval da Casa Branca, Trump voltou a criticar a presença de “milhões” de imigrantes em situação irregular no país, muitos dos quais, segundo ele, seriam criminosos. O presidente norte-americano agradeceu o apoio de El Salvador nas ações para conter a imigração ilegal.
“É um pecado o que fizeram, e vocês estão vindo em nosso socorro”, disse Trump, referindo-se à política de “fronteiras abertas” do governo democrata anterior, liderado por Joe Biden. O magnata ainda elogiou Bukele diante das câmeras: “Vocês têm um grande presidente”, afirmou, enquanto os dois líderes passaram alguns minutos criticando a imprensa e discutindo sobre a participação de atletas trans em competições femininas.
“Tolerância zero”
Bukele, de 43 anos, é conhecido por sua política de “tolerância zero” contra as gangues em El Salvador. Durante a reunião, ele reafirmou a decisão de abrigar em território salvadorenho mais de 250 pessoas deportadas dos EUA, que serão mantidas no Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), megaprisão construída por seu governo.
A maioria dos detidos é de origem venezuelana e foi acusada pela administração Trump de integrar a violenta organização criminosa internacional Tren de Aragua, classificada como grupo terrorista pelos Estados Unidos em fevereiro.
“Sabemos que vocês enfrentam problemas graves com criminalidade e terrorismo e precisam de ajuda. Somos um país pequeno, mas faremos o que estiver ao nosso alcance para contribuir”, afirmou Bukele.
Bukele foi o primeiro chefe de Estado da América Latina a ser recebido por Trump desde sua volta à presidência, em janeiro.
Lei do século 18
Trump reativou uma lei do século 18, originalmente usada em tempos de guerra, para autorizar a expulsão sumária de supostos membros de gangues criminosas. A medida vem sendo duramente criticada por organizações de direitos humanos, que denunciam desaparecimentos forçados e prisões arbitrárias de imigrantes venezuelanos.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou no domingo o envio de mais 10 supostos criminosos ao território salvadorenho.
Impasse jurídico
Entre os deportados em março, está Kilmar Ábrego García, cidadão salvadorenho cuja deportação foi admitida como erro administrativo. Segundo o governo dos EUA, ele não poderia ter sido expulso desde 2019.
Ábrego está no centro de um impasse judicial: a Justiça norte-americana exige seu retorno, mas a administração afirma que não tem mais jurisdição sobre ele, já que se encontra em território estrangeiro.
“Como eu poderia mandá-lo de volta aos Estados Unidos? Eu o faria entrar clandestinamente no país? É claro que não vou fazer isso. A pergunta é absurda (…) Eu não tenho o poder de devolvê-lo”, respondeu Bukele.
Trump, por sua vez, afirmou que considera até mesmo deportar para El Salvador cidadãos norte-americanos que cometam crimes violentos e pediu à sua secretária de Justiça, Pam Bondi, que avalie a legalidade da proposta. “Estou totalmente de acordo”, declarou.
Acordo econômico e tensões comerciais
A visita de Bukele também teve uma pauta econômica. El Salvador recebeu US$ 6 milhões de Washington como parte do acordo para manter presos os deportados em seu território. “Para eles, é pouco. Para nós, é muito”, comentou Bukele.
Apesar da cooperação, o país centro-americano continua sendo afetado pelas tarifas comerciais impostas por Trump, que chegam a 10%.
Segundo o Banco Central de El Salvador, quase um terço das exportações salvadorenhas – o equivalente a US$ 2,1 bilhões – têm como destino os Estados Unidos. Os principais produtos enviados são têxteis, açúcar e café.
Atualmente, cerca de 2,5 milhões de salvadorenhos vivem nos Estados Unidos. As remessas enviadas por esses imigrantes representaram 23% do PIB salvadorenho em 2024, alcançando US$ 8,5 bilhões. Economistas apontam que essas transferências cresceram 14% nos primeiros dois meses de 2025, impulsionadas pelas recentes ondas de deportações.
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