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    Ciclismo radical – Paris-Roubaix 2019

    Também conhecida como “Inferno do Norte”, é uma das provas ciclísticas mais antigas e uma das corridas mais brutais do pelotão World Tour, com um percurso total de 257 km, incluindo 54,5 km de pavés, distribuídos por 29 setores de paralelepípedos totalmente desalinhados, causando furos, quebras das bikes, quedas e muita tensão entre os ciclistas e equipes, antes da glamorosa chegada dentro do velódromo de Roubaix. Confira como o experiente Philippe Gilbert, belga de 36 anos venceu esta clássica, com os comentários de NBC Sports.

    paris-roubaix: o que suas bicicletas nos ensinam?

    colnago c40, modelo que foi produzido de 1994 a 2003. talvez a bicicleta que mais tenha vencido a paris-roubaix.

    colnago c40, modelo que foi produzido de 1994 a 2003. talvez a bicicleta que mais tenha vencido a paris-roubaix.

    paris-roubaix, que nesse ano se realizou hoje, é uma das mais desconfortáveis clássicas (provas de um dia) do planeta.

    há outras clássicas com trechos de paralelepípedos. la doyenne é uma. mas, enquanto na bélgica os trechos de paralelepípedos (pavés, cobllestones…) são estradas muito antigas e alisadas por séculos de trânsito, na frança essas estradas vão sendo substituídas por asfalto e então novos trechos são criados pra prova. ou seja, com pedras novas… pontudas ainda!

    a bicicleta chacoalha. e muito. então, tudo tem que ser reforçado. tudo é diferente. não vemos uma bicicleta dessas no tour de france. não vemos uma bicicleta dessas no giro. mas vemos nas clássicas. embora a c40 tenha estreado numa vuelta de españa.

    o que faz uma estradeira ser boa para provas como a paris-roubaix e outras, e apareçam bastante em gran-fondos, em brevets ao redor do mundo?

    a geometria relaxada. uma estradeira de geometria relaxada é muito mais confortável, e, portanto, aguenta-se ficar mais tempo sobre ela, mesmo em condições de pavimento ruim. perde-se um pouco em desempenho, mas quem vai fazer 200 kms, sendo amador, sendo que não mudará sua vida se chegar 1 ou 2 minutos depois de outra pessoa, conseguir ficar em cima da bicicleta é tudo de bom! hehehe

    uma bicicleta de competição, pura, pode não ser a melhor escolha para um ciclista amador. o profissional está calejado, roda de 100 a 200 kms por dia, tem dieta balanceada, tem apoio médico, massagistas e etc. até bermudas melhores tem.

    e o amador? amador não tem nada disso. amador tem até uns quilinhos a mais…e daí o equipo de corrida, de competição, o equipo esportivo puro pode não ser o melhor para ele. um exemplo é o equipamento com limite de peso. há bicicletas com limite peso do ciclista limitado a 70 kg. mas quantos ciclistas amadores não pesam bem mais que isso?

    e também há a limitação de tempo de uso. o equipamento de competição top é feito para durar uma ou duas temporadas. mas qual o amador que joga fora uma bicicleta bem cara após dois anos e compra outra?

    e claro, voltemos ao conforto. olhe a foto da colnago c40 lá em cima. note o espaço entre a roda traseira e o tubo vertical do quadro. note o cassete com pinhões pequenos… note que a corrente está na coroa menor da pedivela, que é quase do tamanho da coroa maior.

    esta bicicleta não foi feita para subidas, não tem marchas para subidas e claro, aquela traseira longa deve flexionar um bom tanto. mas a geometria privilegia conforto, que num trajeto como o da paris-roubaix, também significa desempenho. bicicletas confortáveis passam mais rápido em paralelepípedos.

    se esse quadro da colnago c40 for equipado com pedivela compacta ou tripla, e um cassete com pinhões grandes (11-28, ou, pq não, câmbio traseiro de mtb e 11-34?) teremos uma senhora bicicleta para se usar nos brevets de estradas ruins, como em geral são as estradas brasileiras. basta também deixar o guidão um pouco mais alto, para uma postura mais ereta (mais confortável, ninguém aguenta guidão 10 cms mais baixo que o selim por 17 horas de pedal…).

    spcialized roubaix sl4 que tom boonem usaria esse ano, se não tivesse se arrebentado há uma semana. note a traseira mais longa.

    specialized roubaix sl4 que tom boonem usaria esse ano, se não tivesse se arrebentado há uma semana. note a traseira mais longa.

    claro, não só esses detalhes fazem uma bicicleta boa para trajetos ruins. outros detalhes também, como pneus ligeiramente mais largos, aros mais resistentes (na paris-roubaix usam tubulares, mas em aros de alumínio e seção quadrada em diversas bicicletas!) , e até detalhes incomuns em bicicletas das lojas: uma pecinha que eiva que a corrente caia para dentro da coroa menor, e não raro um monte de fita emborrachada nos suportes de caramanhola para que estas não pulem ao se passar rapidamente pela buraqueira!

    trek domane 6 series. comuma dessas preta, grupo dura-ace 9000 mecânico e pneus de 27mm, fabian cancellara venceu a paris-roubaix de 2013

    trek domane 6 series. com uma dessas preta, grupo dura-ace 9000 mecânico e pneus de 27mm, fabian cancellara venceu a paris-roubaix de 2013 – note a traseira mais longa

    mas a questão: precisa ter  uma bike pronta pra paris-roubaix pra se fazer audaxes? não. apenas precisa não ter o fetiche pelo equipamento de competição que vemos nas revistas. precisa ter a mente aberta para outras necessidades: geometria mais relaxadas, pneus mais largos, encaixe pra para-lamas…pois sim, para-lamas são ótimos em bicicletas para audaxes. já foram equipamento obrigatório no paris-brest-paris, não são mais, mas são desejáveis.

    para-lamas para quê, né?

    para-lamas para quê, né?

    muitos quadros de alumínio da linha de entrada de diversos fabricantes têm geometrias confortáveis e olhais pra tudo quanto é lado, pra prender para-lamas, bagageiros e etc.  tem brasileiro que não entende que, nos e.u.a. e europa, essas bicicletas são muito utilizadas em brevets e centuries (provas de 100 e 200 milhas). e claro, se você mora me locais úmidos, ter para-lamas ou não será a diferença entre conseguir pedalar debaixo daquela chuva ou não…

    sim, o seu melhor quadro para audaxes pode ser um antigo quadro trek 1200 ou 1.2, um quadro giant defy, um quadro surly cross-check ou pacer, um quadro specialized dolce… e claro, se seu apelido é “a lenda”, vá com qualquer bicicleta que você chegará lá.

    Takamoto
    Takamoto
    Fotojornalista, artista marcial, ex-militar, perito criminal.

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