Brasília entrou, neste mês, numa rota que até então parecia distante para a cena competitiva do skate: a capital federal sedia pela primeira vez uma etapa do STU National, que entre os dias 24 e 26 de outubro colocará no Parque da Cidade Sarah Kubitschek a final da temporada 2025 da modalidade Street.
Mais que um campeonato, o evento inaugura uma pista de padrão internacional, projeto da Rio Ramp Design que ficará como legado: 800 m² pensados para fluidez, velocidade e conexões entre obstáculos que dialogam até com a malha urbana do Plano Piloto.
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O STU (plataforma e circuito) trouxe para Brasília não só a disputa pelos títulos nacionais com nomes que dominaram as etapas anteriores, como Maria Almeida, Gabryel Aguilar e Ivan Monteiro, mas também a promessa de que a capital deixe de ser apenas palco de show e se torne incubadora de talentos.
A cerimônia de abertura e os treinos já mostraram um clima que mistura festa, tensão competitiva e o tipo de carinho popular que o skate brasileira tem colecionado: arquibancadas vibrantes, famílias, jovens, crianças e uma atmosfera de cidade que recebe uma cultura urbana com braços abertos.
Pela primeira vez, a capital federal recebe uma etapa decisiva do circuito nacional de skate. E ela já chega com o título em jogo, os melhores atletas do país disputarão o troféu da modalidade Street, em uma pista inédita e permanente.
O circuito nacional celebra a chegada do evento à capital e marca o início de uma nova era do skate no Centro-Oeste
O que está em jogo
A edição brasiliense do STU National é também a final do circuito Street de 2025 e, por isso, concentra tensão, expectativa e, principalmente, histórias humanas de superação.
No feminino, Maria Almeida lidera o ranking com 104.880 pontos, seguida de perto por Duda Ribeiro (102.069), numa disputa que promete se resolver manobra a manobra. No masculino, Gabryel Aguilar (140.000) aparece na frente, com Ivan Monteiro (124.000) logo atrás dois nomes que carregam não apenas técnica, mas carisma e uma legião de fãs que os acompanha pelo país.
Mas o que torna o STU de Brasília ainda mais simbólico é o espaço que ele abre para o Paraskate, modalidade que vem transformando a forma como o esporte é visto no Brasil e no mundo. Nomes como Vini Sardi e Tony Alves ajudam a redefinir os limites do corpo e do próprio conceito de performance. No lugar de barreiras, eles enxergam rampas; no lugar de diferença, potência.
O clima é descontraído e inspirador, com destaque para o sorriso dos atletas e o cenário ensolarado da pista ao fundo
“A gente mostra que o corpo não limita o sonho”, diz Vini Sardi, uma das vozes mais marcantes da cena.
“Cada pista nova é também um convite para novas pessoas acreditarem que elas podem estar aqui”, acrescentou.
O Paraskate hoje é uma das categorias que mais crescem dentro do circuito, com estrutura profissional e apoio da Associação Brasileira de Skate (ABPSK). Os atletas, além de competirem, também atuam como embaixadores da inclusão, inspirando novas gerações e fortalecendo o movimento que busca o reconhecimento da modalidade nos Jogos Paralímpicos.
Assim, o que está em jogo em Brasília vai muito além do pódio. Está em disputa a consagração de uma temporada, mas também a consolidação de um modelo de evento que une esporte, cultura e acessibilidade onde cada manobra, seja com os pés, as mãos ou o coração, redefine o que significa vencer.
Skate de alto nível e alma leve
Entre risadas, treinos e expectativas, o clima entre os atletas é de pura energia. A líder do ranking feminino, Maria Almeida, não esconde a empolgação:
“O circuito desse ano foi insano, cada etapa mais incrível que a outra. Saber que Brasília agora tem uma pista fixa me deixa muito feliz. A cidade é linda, tem uma vibe boa, e essa pista ficou muito style. Vai ser um fim de semana de skate de alto nível”.
Atletas do STU National Street Finals 2025 participam de coletiva de imprensa em Brasília, no Parque da Cidade Sarah Kubitschek
No masculino, o líder Gabryel Aguilar aposta em Brasília como uma das etapas mais memoráveis do circuito:
“Essa pista tem um flow diferente. É o tipo de lugar que dá vontade de ficar o dia inteiro andando. Brasília vai ser sinistra”.
Ivan Monteiro, vice-líder do ranking, destaca o impacto da chegada do STU à capital:
“Brasília tem uma cena muito forte. A gente sente a energia da galera nas ruas, nos picos, nas praças. Essa pista vai deixar um legado gigante, vai formar novos skatistas e fortalecer a cultura local”.
Mais do que um campeonato, um legado
A presença do STU em Brasília é também uma política de futuro.
Inauguração oficial da nova pista de skate de Brasília, símbolo do legado deixado pelo STU National Street Finals 2025 na foto Renato Junqueira
Renato Junqueira, secretário de esportes do DF ressaltou que o evento marca o início de uma nova fase de incentivo à prática do skate.
“Nosso objetivo é que essa pista se torne um espaço vivo, uma incubadora de talentos. Queremos trazer projetos sociais, escolas e programas permanentes para fortalecer a modalidade e democratizar o acesso ao esporte”.
A fala dele resume o espírito do evento: o STU é mais do que um campeonato — é um projeto de transformação social, que acredita na potência do skate para mudar vidas.
Skate é superação
Entre quedas, gargalhadas e aplausos, há uma narrativa que move todos os atletas: a da superação diária.
Isabelly Ávila, jovem promessa do Street feminino, fala com honestidade sobre o desafio psicológico do esporte. “O skate exige da mente tanto quanto do corpo. A pressão pesa, e às vezes o cansaço vem mais da cabeça do que das pernas. A gente precisa equilibrar tudo, respirar, confiar. Cada dia é um desafio.”
Atletas do STU National Street Finals 2025 participam de coletiva de imprensa em Brasília, no Parque da Cidade Sarah Kubitschek, na foto Maria Almeida, Isabelly Ávila e Gabryel Aguilar
Maria Almeida concorda e compartilha sua própria evolução. “Demorei para me acostumar com o nervosismo, com o público, com a responsabilidade. Mas hoje eu vejo como é bom poder ajudar as mais novas, como a Duda, a se soltarem e curtirem o momento”.
Entre uma manobra e outra, Gabryel Aguilar encontra o equilíbrio na leveza. “Brinco, zoio a galera, dou risada. É meu jeito de lidar com a pressão. Quando o clima tá tenso, é isso que segura”.
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O público faz o show
Brasília promete arquibancadas lotadas e energia contagiante. Maria Almeida lembra da vibração do público em São Paulo e espera repetir a cena: “Fiquei chocada com a galera gritando em cada volta. Foi lindo ver pessoas de todas as idades torcendo, vibrando, ficando até o fim. Quero ver isso aqui também. Tenho certeza que vai ser uma festa”.
Atletas e organizadores concedem entrevistas destacando o impacto do skate brasileiro e o incentivo à juventude através do esporte na foto Matheus Mendes, Gabryel Aguilar e Ivan Monteiro
E Gabryel complementa: “A energia do público é o combustível. Brasília acolhe o skate como poucas cidades. Se tivesse mais arquibancadas, enchia todas!”.
Paraskate: quando o esporte é para todos
Entre as maiores emoções do STU está o momento em que o Paraskate entra na pista. Atletas como Vini Sardi e Tony Alves mostram que o skate é, acima de tudo, uma celebração da vida, da liberdade e da inclusão.
Vini Sardi, referência mundial da categoria, emociona ao falar sobre representatividade: “Muitos de nós só começamos a andar porque vimos alguém parecido com a gente fazendo o mesmo. Eu vi um amigo meu com deficiência andando, e pensei: ‘se ele consegue, eu também posso’. Hoje, quero ser esse exemplo para outras pessoas”.
Competidores do Paraskate emocionam o público ao mostrar força e técnica nas manobras adaptadas. O momento foi um dos mais aplaudidos do evento, na foto Vini Sardi
Ele ainda reforça a importância de o STU deixar legados permanentes:
“Cada pista nova é uma semente. Vão surgir novas gerações de pessoas andando aqui, se desafiando, descobrindo que podem ir além”.
Tony Alves, parceiro de Vini nas competições, completa: “O clima do campeonato é intenso, mas o skate precisa ser leve, divertido. É isso que a gente leva pra pista — alegria, companheirismo e superação.”
Atletas do Paraskate participam das provas inclusivas do STU National Street Finals 2025, reforçando o compromisso do evento com a acessibilidade e a diversidade no esporte
O Paraskate, modalidade em ascensão, tem sido uma das bandeiras mais fortes do STU, que aposta em acessibilidade, inclusão e visibilidade como pilares de sua missão.
A cidade modernista
Brasília nasceu do concreto e da utopia, e o skate, da liberdade e da resistência. Quando esses dois mundos se encontram, o resultado é o que se verá neste fim de semana: arte em movimento.
Para o gestor executivo do STU, João Victor Martins, essa convergência é simbólica:
“Brasília sempre teve uma cena forte, mas agora tem uma pista de alto nível. Isso abre portas não só para o STU, mas para futuras competições internacionais. O público abraçou o evento os ingressos de domingo já estão esgotados. É um novo capítulo para o skate brasileiro”.
A nova pista do Parque da Cidade, deixada como legado do STU National, se torna um espaço permanente para o skate de rua e o paraskate em Brasília, na foto João Victor Martins
Entre manobras, sorrisos e aplausos, o STU transforma o Parque da Cidade em um palco de cultura urbana, música, arte e esporte.
E quando a última volta terminar, o som das rodinhas vai continuar ecoando, porque o legado fica.