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    Ibaneis Rocha pede desculpas à população do DF por onda de violência

    Em evento sobre cibersegurança, promovido pelo Metrópoles e pela revista Época, governador do DF lamentou assassinato do padre Casemiro

    governador Ibaneis Rocha (MDB) pediu desculpas à população “por essa onda de violência”, ao se referir ao assassinato do padre Casemiro, na noite de sábado (21/09/2019), estrangulado por arame durante assalto à igreja Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte.

    A declaração foi dada no evento tech talk “Cibersegurança: usuários, corporações e nações sob ataque”, promovido pelo Metrópoles e pela revista Época, nesta segunda-feira (23/09/2019), no Parque Tecnológico do Biotic.

    De acordo com o emedebista, “por mais que a gente tenha se esforçado para melhorar a segurança do DF” ainda não foi possível conter a criminalidade na capital do país. Após participar da abertura do evento, o governador foi ao enterro do religioso, na paróquia da Asa Norte.

    No domingo (22/09/2019), por meio de nota, o governador disse que o enfrentamento da violência demanda mobilização conjunta da sociedade cívil e da polícia: “O assassinato do padre Casimiro, um homem de paz, amado e admirado por todos, não só choca como nos leva a refletir sobre a sensação de insegurança que recai sobre todos nós. Expõe uma dura realidade que precisamos enfrentar com determinação. Por mais preparada e equipada que esteja a polícia, por mais rigorosas que sejam as leis, a criminalidade violenta expõe sua face onde e quando menos esperamos”.

    Ibaneis decretou três dias de luto. Para ele, “o combate à criminalidade deve ser encarado como prioridade, daí a necessidade de unirmos forças. A sociedade precisa de paz. Não iremos tolerar que o cidadão ou cidadã se torne refém de criminosos dentro de sua própria casa. Que Deus receba a sua alma, conforte os seus familiares e paroquianos e nos ilumine nesse esforço de garantir a tranquilidade da população”.

    padre casemiro

    Padre Casemiro, como era conhecido, foi encontrado com os pés e as mãos amarrados, e com um arame envolto ao pescoço. O religioso também tinha uma lesão na cabeça, segundo a polícia. O corpo estava do lado de fora da casa paroquial, que fica nos fundos da igreja.

    Kazimierz Andrzej Wojno desembarcou no Brasil há cerca de quarenta anos para cumprir a vocação ao sacerdócio da Igreja Católica. Aos 71 anos de idade e 46 de batina, tinha como maior realização a construção da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte. E foi justamente na área do templo ao qual se dedicou grande parte da vida onde foi brutalmente assassinado no último sábado (21/09/2019)

    Uma das maiores dificuldades iniciais do religioso quando chegou a Brasília era se fazer compreender, devido ao forte sotaque. Para se aproximar da comunidade “aportuguesou” seu nome, tornando-se o padre Casemiro. “No começo, ele tinha problemas com o português. Por isso, celebrava as missas com anotações. Ele tinha dificuldade de falar e nós de entender, mas seguimos em frente. E no final até que ele estava falando muito bem”, conta o paroquiano José Mário dos Santos.

    A obstinação do sacerdote era um traço marcante de Casemiro, contam os fiéis. Com a ajuda de doações, principalmente da família na Europa, ele construiu a igreja da 702 Norte com as próprias mãos. “Era o padre engenheiro, o padre peão”, lembrou Santos. Durante a construção do templo, Casemiro não apenas coordenava os trabalhos, como também colocava a mão na massa.

    Uma das histórias que o clérigo contava era de que, certa vez, um caminhão foi entregar material de construção. Como ele estava trabalhando, coberto de cimento, o entregador perguntou: “Onde está o padre?”. O sacerdote respondeu: “Está falando com ele”. O homem não acreditou. “Seu peão, diga onde está o padre.” Com toda paciência, Casemiro desceu da obra e esclareceu a situação.

    Fotografia

    Casemiro também era adepto de tecnologia e um de seus hobbies era fotografar. A família chegou a comprar uma câmera de ponta para ele. Ao receber o presente, sorriu. “Olha o manual da máquina. Parece uma bíblia”, brincou. Logo depois, o equipamento foi furtado da Igreja. O pároco ficou três dias abatido quando soube que o item estava sendo revendido em uma feira.

    Segundo os paroquianos, o religioso tinha um perfil duro, mas acolhedor. “Ele sempre foi sério. Andava com sandálias de padre. No último sábado, pela primeira vez, vi que ele celebrou a missa de tênis”, comentou a paroquiana Marlene Barroso.

    Segundo a fiel, na última celebração, no sábado, momentos antes de ser assassinado, o pároco fez uma profunda reflexão sobre a falta de segurança. “No final, ele falou muito da preocupação com a violência em nossa cidade, no mundo. Parece que estava prevendo”, desabafou.

    A paróquia era muito frequentada por pessoas carentes e moradores de ruas. Casemiro não fazia doações para ajudá-los, mas costumava conversar e oferecer oportunidade de emprego, inclusive na própria obra da Igreja. “Ele era um europeu, duro, mas era querido por todo mundo”, concluiu Tania Maria, ministra da Eucaristia.

    Takamoto
    Takamoto
    Fotojornalista, artista marcial, ex-militar, perito criminal.

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